sexta-feira, 31 de julho de 2009

O problema é do Lula, sim!


Por Valdo Cruz




O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o futuro do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não é problema seu. Questionado se discutiria com o aliado peemedebista seu futuro à frente do comando do Senado, Lula disparou: "Não é um problema meu [a permanência de Sarney]. Eu não votei para eleger Sarney presidente do Senado nem votei para ele ser senador do Maranhão (sic)", confundindo o Estado pelo qual o peemedebista foi eleito, o Amapá.


Com todo respeito, nada mais falso. Verdade que, votar, ele realmente não votou em Sarney. Mas que trabalhou pela eleição do aliado, ah, isso ele fez. Que o diga o senador petista Tião Viana, derrotado por Sarney na disputa pelo comando do Senado. Na época, o petista reclamou da falta de apoio do Palácio do Planalto.


Ao dizer ontem publicamente que Sarney não é problema seu, Lula não foi fiel ao que vinha dizendo em particular. Ao próprio presidente do Senado e demais aliados peemedebistas, Lula mais de uma vez defendeu a permanência de Sarney no cargo. Reiterou esse apelo nessa semana, durante conversa por telefone.


O mesmo presidente que ontem disse que Sarney não é problema seu comandou uma operação para enquadrar os senadores petistas antes do recesso parlamentar, quando a bancada do PT no Senado ensaiou abandonar o peemedebista. Foi um rolo compressor, constrangedor para os senadores. Na época, ele foram obrigados a desdizer o que já haviam dito sobre Sarney.


Agora mesmo, na reta final do recesso, Lula entrou em ação para solicitar a seus companheiros que maneirassem no tom em relação ao presidente do Senado. E prometeu ao PMDB trabalhar, mais uma vez, para que nem todos os 12 senadores do PT abandonem José Sarney em seu momento mais delicado.


O fato é que Lula já defendeu publicamente Sarney várias vezes. Estava pegando mal junto ao eleitorado. Daí que ele já havia avisado que passaria a ser econômico nas palavras em relação ao presidente do Senado, evitando novas declarações públicas de apoio. Mas não se furtaria a trabalhar nos bastidores em nome do peemedebista.


E dificilmente Lula poderá abandonar totalmente Sarney. Afinal, ele sabe muito bem o problema que criará se assim o fizer. Um PMDB abandonado no Senado pode dar o troco nos trabalhos da Casa, mais precisamente na CPI da Petrobras. Tudo que Lula não deseja.


A dúvida é sobre a resistência de Sarney diante do agravamento da crise que enfrenta desde sua posse, em fevereiro. Familiares dizem que estão pressionando pela sua saída. Mas os aliados mais próximos no PMDB garantem que ele está firme no posto e comandando a estratégia de sobrevivência, que passa pela representação no Conselho de Ética contra o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio.


A verdade é que o cenário está um pouco nebuloso nessa semana. Na próxima, com a volta dos trabalhos do Congresso, tende a ficar mais claro. Até lá, nada deve acontecer.




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