domingo, 30 de dezembro de 2007

Testamento dos prisioneiros patriotas do Vietname (excertos)

Temos de insistir na denúncia das condições de detenção absolutamente inimagináveis. Na prisão de Chi Hoa, a prisão oficial de Saigão, havia cerca de 8000 pessoas encarceradas sob o Antigo Regime, e este facto era severamente criticado. Hoje, esta mesma prisão encerra mais de 40000 pessoas. Com frequência, os prisioneiros morrem de fome, de falta de ar, sob tortura ou suicidam-se. [...]

Há duas espécies de prisões no Vietname: as prisões oficiais e os campos de concentração. Estes últimos estão perdidos na selva, o prisioneiro é ali condenado perpetuamente a trabalhos forçados, nunca é julgado e nenhum advogado pode assumir a sua defesa.[...]

Se é verdade que a humanidade actual recua com temor face ao desenvolvimento do comunismo, e principalmente da pretensa «invencibilidade» dos comunistas vietnamitas que «venceram o todo-poderoso imperialismo americano», então nós, prisioneiros do Vietname, pedimos à Cruz Vermelha Internacional, às organizações humanitárias do mundo, aos homens de boa vontade que enviem com urgência a cada um de nós um comprimido de cianeto a fim de que possamos por fim ao nosso sofrimento e à nossa humilhação. Queremos morrer imediatamente! Ajudem-nos a realizar este acto: ajudem-nos a morrer imediatamente. Ficaremos imensamente reconhecidos.

feito no Vietname, do mês de Agosto de 1975 ao mês de Outubro de 1977

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Crimes contra a humanidade - Comunismo

Escrito por Milla Kette

colaboração do professor de História Paulo Diniz


O dia 11 de setembro de 2001 marcou para sempre as vidas dos que perderam amigos e parentes naquele bárbaro ataque. Alguns, no entanto, desculparam essa monstruosa carnificina, afirmando que os americanos fizeram por merecê-la — como se assassinatos em massa tenham razões justificáveis. Quando pergunto o que exatamente os EUA fizeram, recebo insultos como resposta. Em e-mail recente, após ironicamente desculpar-se, Marcelo, um leitor brasileiro, confessou que "de uma maneira mais política ou figurativa", foi "bonito" ver "a destruição do suposto invencível e a quebra de uma imagem, até então, tida com invulnerável". Não só insensível e revoltante, quanto desinformada opinião, pois o WTC abrigava empresas de oitenta países. Para ele "os EUA dominam o mundo através do massacre" (do que não deu um único exemplo), e isso justifica a morte de trabalhadores, policiais e bombeiros, cuja maioria dos corpos não será jamais resgatada da massa de detritos que foi um dia um local de trabalho.


Tenho pensado nos motivos que poderiam de alguma maneira justificar que seres humanos perpetrassem tal monstruosidade. Li a pesquisa de Seth Stevenson sobre o Corão <http://slate.msn.com/?id=117525>, onde se relacionou passagens que, claramente, incitam à morte de infiéis. Admitindo por um instante que os ataques aos EUA tiveram razão de ser, pesquisei e relacionei casos de violência no mundo. Descartei o Corão e iniciei a lista no século XX. Cenas pavorosas estampadas na tela do computador foram imediatamente apagadas; mas os mecanismos da mente não deletam as imagens armazenadas com um clicar do mouse. Constatei que muitos fatos foram relegados ao esquecimento. Onde os dedos acusatórios a relembrar que o governo da Croácia (antiga Iugoslávia) eliminou mais de trezentos mil sérvios durante a Segunda Guerra Mundial? E a indignação frente aos meses de horrendos massacres de milhares de civis alemães, perpetrados por russos, tchecos e poloneses no final dessa Guerra?


Os japoneses ficaram famosos por sua crueldade. Na Universidade de Kyushu (em Fukuoka, entre Hiroshima e Nagazaki), durante a Segunda Guerra, médicos dissecavam prisioneiros de guerra (chineses, americanos, russos) enquanto ainda vivos e executavam experiências em mulheres grávidas (perpetrando até estupros a fim de usar bebês nos experimentos). O príncipe Mikasa visitou a famosa Unidade 731 da Milícia Imperial na China e descreveu em suas memórias os filmes que assistiu, onde prisioneiros chineses marchavam pelas planícies da Manchúria, a fim de levar adiante experimentos de gás venenoso em seres humanos. A 39a Divisão de Hiroshima conduziu massacres na China Central, que mataram centenas de milhares de civis próximo a Changsha. Em 1937 a Armada Imperial Japonesa lançou um ataque de seis semanas sobre a cidade de Nanjing (China), quando trezentas mil pessoas (na maioria, civis) foram brutalmente mortas e suas genitálias, mutiladas. Calcula-se que vinte mil mulheres foram estupradas e mortas por grupos de soldados; as que sobreviveram, acabaram nos bordéis do exército. Não se lê, também, a verdade sobre as bombas que assolaram Hiroshima e Nagazaki e dobraram a cerviz japonesa. Elas destruíram duas cidades, mas salvaram as vidas dos quatrocentos mil prisioneiros, aliados e civis, que seriam executados caso os americanos invadissem o Japão, e encerraram a participação dos japoneses na guerra.


Nas Filipinas, no sul da península de Bataan, em 9 de Abril de 1942, os japoneses obrigaram setenta e oito mil prisioneiros de guerra americanos e filipinos a marchar 88 Km sob temperaturas de 40o C, em terreno difícil, sem alimentação ou água. A Camp O’Donnell chegaram apenas cinqüenta e quatro mil POW’s, pois além da fome, os japoneses distribuíam bastonadas, golpes de baionetas e bordoadas pelo caminho; os corpos dos que tombavam (mesmo vivos) eram abandonados à beira da estrada. No destino, mais horrores aguardavam os sobreviventes da Bataan Death March: três anos de cativeiro, tortura física e mental, doenças, desnutrição, falta de remédios e alimentos.


Mao Zedong condenou à morte pela fome quarenta milhões de camponeses chineses, ao pretender que a economia chinesa desempenhasse mais rápido, em mais quantidade, melhor e com menos custo que a Ocidental. Em junho de 1989 o protesto na Praça de Tiananmen terminou com o Exército de Liberação do Povo matando centenas de simpatizantes da Democracia, ferindo outros dez mil e prendendo centenas de estudantes e trabalhadores. O governo chinês continuou com as prisões, julgamentos sumários e execuções e a imprensa estrangeira foi banida do país. Onde os comentários de revolta contra o número jamais decrescente das vítimas da repressão chinesa nas prisões?


A África não foi vítima apenas do imperialismo inglês, francês, italiano, holandês, português, espanhol. Tiranos locais apressaram-se em oprimir seus conterrâneos, assim que se viram livres do demônio branco. Idi Amim e Milton Obote, seu sucessor, juntos, teriam assassinado meio milhão de ugandenses nas décadas de 70 e 80. Eles liquidaram chefes de justiça, ministros, o vice-chanceler da Universidade de Makerere e um bispo anglicano. Quando os EUA e a Inglaterra interromperam o auxílio econômico em 1972, Amim encontrou apoio na Líbia e União Soviética. Ao fugir de Uganda em 1979, refugiou-se na Arábia Saudita e jamais respondeu por seus crimes. E o tal Tribunal Internacional? É só pra gringo?



Em 1994 estima-se que um milhão de pessoas (maioria tutsi) foram massacradas em Ruanda por extremistas hutu; seus corpos mutilados abarrotaram rios. No antigo Congo Belga e em Biafra (Nigéria), as guerras que se seguiram à independência do primeiro e a tentativa de libertar-se da Nigéria por parte do segundo, geraram mais de um milhão de mortos. Quando marxistas assumiram o governo da Etiópia, após 1977, o país enfrentou inúmeras guerras, sustentadas por tropas cubanas e armas soviéticas, adquiridas a peso de ouro, enquanto assistíamos o povo morrer de fome pela TV na década de 80 (On War: The Ogaden War 1977-1978). No Sudão, cristãos são massacrados, vítimas do fanatismo islâmico (armado pelos chineses). Na América Latina, o auxílio financeiro que o Haiti recebia dos EUA foi suspenso em 1961. Ainda assim, o regime de Papa Doc executou dois mil inimigos políticos em seis anos. Houve uma fuga em massa de haitianos em direção às Bahamas e os EUA no final dos anos 70 e início dos anos 80. No Peru, o Sendero Luminoso executou barbaramente milhares de civis durante os anos 80. Onde a revolta?


Em apenas três anos o cabeça do grupo comunista Khmer Rouge, Pol Pot, devastou o Camboja. Eles assassinaram, fizeram trabalhar até a morte em plantações e mataram de fome quase 20% de uma população de sete milhões e trezentos mil habitantes — todos sacrificados às maravilhas do comunismo! Um dos mais horrendos massacres ocorreu na segunda metade de 1978, na fronteira Norte com o Vietnã, onde a resistência ao Khmer era forte; ao menos duzentas e cinqüenta mil pessoas foram mortas num único assalto. Entre os defensores desse regime brutal e sanguinário (que até livro escreveu), está o conhecido lingüista Noan Chomsky, convidado especial do Fórum Social de 2002 em Porto Alegre.



Na Rússia, Lenin matou milhões de proprietários de terra com seu plano de relocação; os que se opunham a suas idéias, desapareciam. A URSS saiu da frigideira para o fogo com seu sucessor e, afirmam alguns, seu assassino, Stalin. O país viveu dias de sofrimento quando ele resolveu limpar o partido comunista, o governo, as forças armadas e a Inteligência, entre 1934 e 1938; milhões de inimigos do povo foram presos, exilados ou fuzilados. Milhares morreram de fome na década de 30 — num país onde, durante o último ano de paz do regime Czarista, exportou-se mais de nove milhões de toneladas em grãos! O Livro Negro do Comunismo e o site http://www2.hawaii.edu/~rummel/welcome.html, para citar dois exemplos, trazem horripilantes imagens e informações sobre os que pereceram e os que sobreviveram aos famosos Gullags, campos de "reeducação" da Rússia, na verdade, campos de trabalhos forçados! Ambos fornecem dados referentes a inúmeras atrocidades (inclusive com gráficos, estatísticas e tabelas), cometidas por vários regimes autoritários e totalitários do século passado e "democracias populares" ao estilo soviético.



O regime dos Aiatolás no Irã foi responsável por repressões e massacres após a tomada do poder, em 1979. Saddam Hussein usou gás mostarda para aniquilar mais rapidamente milhares de curdos no nordeste do Iraque, em 1988. Quanto a Usama bin Laden, Muammar al Qaddafi, Yasir Arafat, Milosevic, Castro, etc, não tenho mais energia nem nervos. Mas meu ponto é muito simples: por que os fatos que relatei nesse texto são esquecidos? Por que não foram cometidos pelos EUA? Será que os atentados do dia 11 de Setembro também cairão no esquecimento?



Genocídio cometido pelo Japão na China (site chinês): http://www.centurychina.com/


Estudos pelo Royal Institute of Technology (Suécia), departamento N.A.D.A., sobre tiranos: http://www.student.nada.kth.se/~f91-gli/dictator_gallery/index.html


The Khmer Rouge Canon 1975-1979: The Standard Total Academic View on Cambodia:
(http://jim.com/canon.htm); tese de doutorado de Sophal Ear menciona Chomsky.


Memórias, príncipe Mikasa: "Fiquei sabendo sobre um jovem oficial — e o choque foi maior ainda, pois foi meu colega, quando estudava para oficial — que usava prisioneiros vivos como manequins, a fim de treinar o uso da baioneta e aumentar a potência do golpe. Mostraram-me também filmes onde trens de carga e caminhões transportavam grandes quantidades de prisioneiros de guerra chineses para as planícies da Manchuria; ali, eles serviriam de cobaias vivas para experiências com gases tóxicos. Um médico militar de alta patente, que tomou parte nessas experiências, contou-me que antes disso, quando Lord Lytton e os representantes da Sociedade das Nações chegaram para verificar o incidente da Manchuria, tentaram dar aos membros desse grupo, frutas contendo bacilos da cólera, mas a operação não teve sucesso".