Mídia Sem Máscara
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"O Brasil poderia ter assumido uma postura mais cautelosa, sem essa exposição toda. E, depois do resultado pífio, deveria ter humildade para reconhecer que tentou fazer o que podia, sem esconder o fracasso, sem insistir em um resultado positivo de um acordo que não vai valer", afirmou o cientista político Samuel Feldberg. "Isso desqualifica o Brasil como intermediário, como possível mediador para próximos conflitos. O País queimou cartucho".
"Nunca houve na diplomacia brasileira um fracasso como este. É um resultado tão desastroso que duvido que se repita", disse José Augusto Guilhon Albuquerque, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. "Eu desejo de que seja assim, porque vai ser muito grave se não se aprender nada depois disso".
Os dois especialistas da USP são céticos sobre a postura iraniana a respeito de seu programa nuclear e criticam o fato de o Brasil ter abandonado a neutralidade no episódio. "O Brasil fez coisa semelhante na questão de Honduras, no conflito entre Equador e Colômbia e agora: adotou um lado. Como pode resolver um conflito se adota um dos lados?", questiona Guilhon.
Na opinião de Feldberg, ao apoiar o Irã na mediação, o Brasil passa uma mensagem equivocada, assumindo uma postura maniqueísta. "De certa forma, o Brasil está dizendo que o Irã e nós somos os mesmos atores de um cenário dominado pelas mesmas potências, sem diferenciar que o Brasil é um jogador honesto e o Irã, não", afirmou.
Para Feldberg, o País não podia ter se comprometido com a causa iraniana a ponto de sair prejudicado da situação. "O Brasil pode estar numa posição privilegiada hoje, mas ainda somo um país marginal. Não temos por que competir com as grandes potências", afirmou.
"O Brasil tem seu próprio programa nuclear, faz enriquecimento de urânio, mas abandonou seu programa nuclear para fins militares há muito tempo. De alguma forma, isso cola em uma necessidade brasileira de deixar muito claro o seu direito de enriquecer urânio e de se comportar nesse meio com independência", disse.
A escassez de mão de obra especializada virou um tormento no dia a dia das grandes empresas. Depois de atingir a construção civil e a indústria naval, agora a falta de profissionais se espalha por setores como o automobilístico, ferroviário, moveleiro, siderurgia e metalurgia, transportes e serviços, aponta levantamento feito pela Fundação Dom Cabral com as 76 maiores companhias do País.
O trabalho mostra que 67% das empresas pesquisadas têm enfrentado dificuldade na contratação de funcionários, apesar dos 8 milhões de desempregados no Brasil. "Somos o país das disparidades: há dinheiro para investir, mas a mão de obra especializada está cada vez mais escassa", observa o professor Paulo Resende, responsável pelo levantamento.
Na avaliação dele, essa questão pode se transformar num gargalo perigoso - a exemplo das carências da infraestrutura - para o crescimento sustentável do País, acima de 5% ao ano na próxima década. Ele conta que encontrou casos de companhias que estão importando mão de obra de outras nações da América Latina. "No setor de petróleo, trazem profissionais da Venezuela; no Agronegócio, de Argentina, Uruguai e Paraguai."
A alternativa também tem sido estudada pela indústria de móveis, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná (Simov), Aurélio Sant’Anna. Há dez anos, qualquer pessoa poderia trabalhar em uma das nossas empresas. Hoje ele precisa saber ler manuais sofisticados e lidar mais com a eletrônica."
O empresário afirma que, em sua empresa, não consegue cumprir a meta de contratar apenas funcionários com ensino médio. Ele conta que tem demorado quase dois meses para preencher uma vaga e, mesmo assim, com profissional aquém do perfil desejado. "Hoje o jovem não está interessado em ser moveleiro. Temos uma boa encrenca para resolver pela frente. Por isso, há uma possibilidade de contratar pessoas da Argentina e do Uruguai."
No mesmo dia que a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberam outra multa da Justiça, a petista criticou o tucano José Serra sobre a autonomia do Banco Central e reconheceu que as conquistas que colocaram o Brasil no patamar que se encontra hoje são dos governos dos "últimos 20 anos e da sociedade". Ontem também o PSB decidiu pelo apoio à candidatura da ex-ministra.
Dilma participou do encontro com investidores chamado "A Eleição Presidencial Brasileira em 2010", promovido pela BM&FBovespa em Nova York. Em vários momentos, Dilma rebateu críticas feitas pelo pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, como no que se refere à autonomia do Banco Central, sem no entanto citá-lo. A ex-ministra disse que a autonomia do Banco Central (BC) foi importante na trajetória de estabilidade da economia brasileira.
Segundo ela, essa autonomia deve ser mantida pelo próximo governo. "Acho que o BC hoje tem uma situação extremamente virtuosa. Muitas vezes se fala que o Banco Central não é a Santa Sé. Mas acho que o Banco Central, dada a nossa fragilidade de conhecimento, consegue congregar o melhor nível de conhecimento que existe quando se olha para o mercado", avaliou. Serra, em entrevista recente, disse que a instituição "não é a Santa Sé" e não está "acima do bem e do mal".
Dilma reconheceu que as conquistas que colocaram o Brasil no patamar atual se devem também a governos anteriores. "Não vou sofismar. Eu não acho que o estágio atual da economia brasileira seja fruto apenas deste governo. Acho que ele é fruto de um processo de amadurecimento dos governos no Brasil e da própria sociedade", afirmou.
Leia Mais AquiNão há como deixar de constatar o irrealismo da legislação eleitoral brasileira, que cria certas restrições a pretexto de proporcionar igualdade de oportunidades a todos quantos disputem mandatos eletivos, mas tem pouco ou nada que ver com a dinâmica do processo político. Assim, uma legislação detalhista acaba sendo paradoxalmente ambígua, cheia de indefinições e de limites imprecisos entre o que se pode e o que não se pode fazer.
Exemplo claro disso são as regras que distinguem a propaganda partidária em horário gratuito de rádio e televisão, e a propaganda eleitoral, propriamente dita. A propaganda partidária deve ter caráter institucional, distribuída pelos partidos durante os meses do ano (seja eleitoral ou não), enquanto o horário eleitoral se restringe aos meses que antecedem as eleições. Se aquela se destina a, genericamente, promover os partidos e seus programas, esta tem o objetivo de divulgar candidaturas específicas.
Ocorre, porém, que os partidos têm de referir-se a seus programas de governo ? já realizados ou por realizar ?, a seus líderes e, sobretudo, àqueles que julgam em condições de conduzir suas gestões públicas, a saber, seus candidatos. Pretender distinguir, claramente, quando um programa em horário gratuito está divulgando um partido ou está defendendo uma candidatura é um exercício fútil.
Pela terceira vez, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) multou o presidente Lula ? em R$ 5 mil ?, por entender que ele fez propaganda antecipada da candidata que escolheu para sua sucessão. A punição referiu-se a fatos ocorridos na inauguração, em 9 de fevereiro, da Universidade Federal de Teófilo Otoni, em Minais Gerais. Para 4 dos 7 ministros do TSE, Lula aproveitou indevidamente o evento para promover sua candidata. Já em março, o TSE multara o presidente Lula duas vezes ? no total de R$ 15 mil ? igualmente por propaganda não permitida em favor de Dilma Rousseff, durante eventos no Rio e em São Paulo. Na última quinta-feira o TSE decidiu que o Partido dos Trabalhadores (PT) deverá pagar R$ 20 mil de multa e a pré-candidata Dilma, R$ 5 mil, por "propaganda antecipada" ocorrida em dezembro. O curioso é que a punição ? que inclui a suspensão do programa partidário do PT no primeiro semestre de 2011 ? foi determinada pelo TSE uma hora e meia depois de já ter ido ao ar um outro programa partidário do PT que, escancaradamente, fez a propaganda eleitoral da pré-candidata Dilma. Durante todo o programa, que se destinava à divulgação exclusiva do partido, a sigla "PT" só foi citada uma vez.
Claro está que as punições determinadas pela Justiça Eleitoral são de peso financeiro irrisório para qualquer campanha eleitoral ? sabendo-se desde sempre que a pessoa física do punido não arcará jamais com essa despesa. Feito o cálculo custo-benefício, fica claro que é vantajoso transgredir a legislação eleitoral. O crime compensa, pois dá ao transgressor grande visibilidade eleitoral.
Um lance decisivo dessa guerra de conquista universal, diz o autor, foi a invasão do Iraque, "parte da agenda americana pós-guerra-fria, em busca da 'dominação de pleno espectro'".
Um ano após a invasão de Bagdá, prossegue Engdahl, "tornou-se claro que a guerra pouco tinha a ver com a ameaça das armas de destruição em massa... ou com o proclamado esforço de 'levar a democracia' ao até então despótico Iraque".
"Tornou-se claro" para quem? Para quem tem o New York Times e a CNN como suas principais ou únicas fontes de informação, talvez. Para quem lê livros e sabe o que são documentos de fonte primária, não.
(1) A lista oficial das armas de destruição em massa encontradas no Iraque - suficientes, por si, para destruir muitas cidades americanas -, pode ser lida, junto com provas convincentes da existência das armas não encontradas, nas páginas 97-106 do livro Disinformation: 22 Media Myths that Undermine the War on Terror, de Richard Miniter (Regnery, 2005). "Praticamente - diz Miniter - nenhum dos críticos da guerra que estiveram envolvidos nos esforços para encontrar essas armas disse jamais não haver provas de que o Iraque as possuía." Foi evidentemente a mídia popular que, para fins de propaganda anti-guerra, colocou essa afirmação em bocas onde ela nunca esteve. A diferença entre dizer que nem todas as armas foram encontradas e que nenhuma foi encontrada é pelo menos tão decisiva quanto a diferença entre dizer "alguém opinou" e "tornou-se claro". Não é admissível que um estudioso profissional de assuntos militares ignore uma dessas diferenças ou, pior ainda, as duas.
Agencia O Globo |
O Globo - 20/05/2010 As brechas no acordo fechado por Brasil e Turquia no Irã e, principalmente, a rápida reação das potências nucleares em apoio às sanções ao regime dos aiatolás revelam alguns aspectos estruturais da política de Brasília, seguida desde 2003. O governo Lula tem o legítimo e correto objetivo estratégico de aumentar a influência mundial do país. Mas o que aconteceu no Irã é trágico desse ponto de vista, ao demonstrar, em meio ao açodamento do governo brasileiro, o desejo de postergar a adoção de sanções ao país, forma de ajudar o regime ditatorial iraniano a ter armas nucleares. Se o desastre coloca o Brasil ainda mais longe do assento de titular no Conselho de Segurança, do ponto de vista da intenção pessoal de Lula de se arvorar como liderança mundial de grande envergadura, ele é patético e vexaminoso. Pode-se dizer que a diplomacia do Itamaraty do B, devido a uma mistura de arrogância e autismo, ultrapassou a autonomia de voo e perdeu sustentação. Lula mudou os rumos da política externa em busca de projeção do país, de abertura a novos aliados e mercados. Mas não o fez apenas com as poderosas armas da eficiência e do profissionalismo da diplomacia brasileira, consagrada pela moderação e equilíbrio. Lançou mão de uma forte dose de ideologia terceiromundista ultrapassada, com cheiro de esquerdismo do pósguerra, tendo como alvo prioritário hoje se vê o confronto sistemático com os interesses americanos. Lula alçou voo no cenário mundial por sua trajetória política e desembaraço no trato dos assuntos externos e no contato com os outros líderes. Mas, a partir de certo ponto, quando o fator ideológico ultrapassou de vez o bom senso, começou a criar constrangimentos. Ainda no início do primeiro mandato, a diplomacia brasileira fechou as portas à Alca (Acordo de Livre Comércio das Américas), uma proposta americana que o lulismo julgou ameaçadora. Não ocorreu ao governo brasileiro negociar para melhorar o projeto surgido em Washington. Brasília preferiu apostar tudo na Rodada de Doha de negociações multilaterais de comércio, sem sucesso. Ficou sem Alca e sem Doha. Com o fracasso da rodada multilateral, o mundo acelerou o fechamento de acordos bilaterais, enquanto o Brasil ficou preso às suas concepções ideológicas. Também por ser do Mercosul, o país só pode fechar acordos em bloco. Na prática, fez-se apenas um, irrelevante, com Israel; e só agora se retomam negociações com a União Europeia. Além disso, o Brasil trabalha para que a Venezuela de Hugo Chávez se torne membro pleno do Mercosul, o que, no mínimo, inviabilizará qualquer negociação comercial que envolva os EUA, a maior economia do mundo. Outra das consequências funestas desta política externa foi solapar as credenciais do Brasil como mediador confiável dos conflitos regionais, ao se trair ideologicamente no silêncio diante de novos crimes contra os direitos humanos em Cuba, na conivência com a tentativa de golpe bolivariano em Honduras e na militante conivência com o autoritarismo histriônico chavista em geral. A política externa não constará do balanço dos melhores momentos da Era Lula. |
A razão da preocupação é simples. Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o Palácio do Planalto, o tema Farc é tabu. Brasília resiste firmemente às pressões de Bogotá e de Washington e não admite a possibilidade de classificar a guerrilha colombiana como organização terrorista. Em troca, as Farc dão mostras de que confiam no governo brasileiro: em duas oportunidades, a guerrilha aceitou que aeronaves militares do Brasil acompanhassem a Cruz Vermelha em delicadas missões de resgate de reféns na selva.
Para não entrar na briga, o governo argumenta que a guerrilha é um problema interno da Colômbia e que, por essa razão, não deve se intrometer.
O PT e a guerrilha já estiveram juntos no célebre Foro de São Paulo, conclave que reúne organizações de esquerda de toda a América Latina. É de lá a amizade que levou Raúl Reyes, número dois da guerrilha morto há dois anos num ataque militar da Colômbia, a escrever em 2003 ao recém-empossado Lula em busca de apoio para a causa das Farc. A mesma amizade permitia a Reyes manter contatos regulares via e-mail com alguns petistas, de dentro e de fora do governo.
Como já ocorreu na Argentina e no Uruguai, os efeitos da anulação serão aplicados de forma retroativa, única e exclusivamente contra o setor militar, exonerando de toda a culpa os comunistas que no passado perpetraram atos terroristas e que agora estão no poder.
Este projeto se enquadra dentro do Plano do Foro de São Paulo para destruir as Forças Armadas da América Latina, denunciado por UnoAmérica em um livro publicado há quatro meses em nossa página eletrônica [1].
O livro explica que, de acordo com o plano do Foro de São Paulo, “as Forças Armadas devem ser destruídas, ou transformadas em outro tipo de instituições, para que exerçam a função de braço armado revolucionário, e desta forma assegurar a permanência no poder dos porta-vozes do socialismo”. O livro acrescenta que, dado que o Foro de São Paulo está vinculado aos impérios do crime organizado, como o são o narcotráfico e o terrorismo, a destruição das Forças Armadas é um requisito para que estes impérios possam crescer e avançar sem obstáculos em toda a região.
O PNDH-3 não surge de uma decisão nacional. É o resultado de um complô internacional no qual participam poderosas redes da esquerda que incluem – dentro do Brasil – o Partido dos Trabalhadores (PT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e amplos setores da mal chamada Teologia da Libertação, entre outros.
UnoAmérica considera que a sociedade civil deve defender as Forças Armadas dos injustos ataques dos quais está sendo objeto porque, do contrário, nossas nações ficarão indefesas ante as graves ameaças que as perseguem.
http://www.unoamerica.org/unoPAG/libros.php?id=11
Tradução: Graça Salgueiro
Com a próxima rodada de pesquisas eleitorais a ser publicada em breve conclui-se o primeiro período da campanha presidencial em curso. Essas pesquisas medirão o sucesso e o insucesso dos candidatos nessa etapa preliminar da disputa.
Desde o final de abril, quando Dilma Rousseff começou a responder os ataques de Ciro Gomes que a acusava de ser menos preparada do que Serra para governar, apontamos em nosso blog e twitter, neste e em outros comportamentos da candidata e do presidente da República, indicadores de que as pesquisas internas do PT deveriam estar registrando resultados adversos para a escolhida de Lula.
As pesquisas ainda não foram publicadas, mas lideranças da oposição já tratam de fazer saber à opinião pública de que o “jacaré começa a abrir a boca”. Isto é, que o gráfico das próximas pesquisas confirmará a tendência de aumento da distância que separa Serra de Dilma.
A se confirmar essa constatação, resta saber se apenas Serra cresceu; se Marina cresceu também, e se, além disso, Dilma caiu. Saber as respostas a essas interrogações é muito importante.
Alterações nos números das pesquisas acontecem como consequência de fatos da conjuntura. Que fatos aconteceram nesse meio tempo?
Em primeiro lugar, a entrada de Serra na campanha. Em segundo lugar, a remoção de Ciro Gomes do tabuleiro da disputa. E Ciro saiu atirando contra Lula e Dilma. Em terceiro lugar, o aumento da intensidade da exposição dos candidatos na mídia, caracterizando o efetivo começo da eleição presidencial. Em quarto lugar, o desenvolvimento das articulações regionais visando à formação dos palanques de apoio aos presidenciáveis.
As pesquisas anteriores, pelo menos do Datafolha e do Ibope, já apontavam o crescimento de Serra após sua entrada em campo. Essa rodada será conclusiva para dirimir a controvérsia criada entre esses institutos e o Sensus e Vox Populi. E, o comportamento de Dilma e de Lula, além do fato de que o PT começa a fazer mudanças na sua estrutura e estratégia de campanha, indicam quem estava certo.
Se, como tudo indica, Serra sobe e Dilma cai nas próximas pesquisas, a principal constatação daí decorrente é de que o diagnóstico de cenário e a estratégia de Serra estavam corretos e, vice e versa, o diagnóstico e a estratégia de Dilma deram errado. Isso tem implicações para a campanha de Dilma.
Este artigo reproduz carta que enviei a um jovem. Por e-mail, ele manifestara dissabor com o artigo "O vampiro argentino". Bem educado, em texto correto e movido por evidente boa intenção, ele expressou sua contrariedade ante a referência que fiz ao fato de "jovens que não sabem apontar com o nariz para que lado fica a Bolívia e que não conseguiriam escrever meia página sobre os episódios de Cuba andarem pelas ruas ostentando camisetas com a estampa do Che". O meu leitor sabia as duas coisas e se magoou. Nas correspondências que trocamos, pedi a ele que em vez de apontar para Bolívia, me indicasse suas razões para reverenciar a memória do argentino. Respondeu-me ele que seu herói "renunciou às comodidades de que desfrutava como médico, buscou viver e alcançar seus ideais, lutou e deu a própria vida pelas suas convicções". E acrescentou que se havia algo que ele prezava e respeitava era "a coragem e a iniciativa de uma pessoa".
Imagino que esse leitor não seja o único que firma sua admiração a Che Guevara nas mesmas bases. Eis, a seguir, o que lhe respondi. Transcrevo na esperança de que sirva para outros em idêntica situação.
Caro jovem: as razões que apontas estão muito mais no plano da reverência a certos sentimentos do que em fatos que os expressem de modo louvável. Valorizaste a coragem, os ideais, a renúncia aos confortos e bens materiais e à disposição de dar a vida por algo em que se crê. O problema do Che não estava obviamente aí, mas no uso que fez desses atributos de seu caráter. Tua referência à renúncia aos bens materiais, aliás, me fez lembrar o filme Diários de Motocicleta. Certamente o assististe. Nele, o diretor Walter Salles Jr. comete amazônica injustiça contra as religiosas que atendiam os índios no leprosário de San Pablo, no meio da selva, dezenas de quilômetros a jusante de Iquitos. Che é apresentado nas manipulações do filme como um anjo de bondade e as irmãs como megeras. No entanto, aquelas mulheres passaram suas vidas inteiras enfiadas em barracos de madeira, no meio do mato, cuidando de leprosos. Não uma semana. Vida inteira! E não por ódio a alguém, mas por puro amor ao próximo. Quem sabe passas a usar uma camiseta com a estampa das irmãs de San Pablo?
E já que falei em cuidar de doentes, lembro outro caso. Em 1913, um talentoso jovem alemão, com doutorado em filosofia, teologia, medicina e música, exímio organista, considerado o maior intérprete de Bach em seu tempo, muito bem sucedido profissionalmente, decidiu instalar por conta própria um hospital às margens do rio Ogowe, no Gabão. Ergueu-o com as próprias mãos. Como forma de mantê-lo, voltava periodicamente à Europa a dar recitais. Fez isso não por uns dias, mas por toda a vida desde os trinta anos. Em 1953, sua contínua dedicação à tarefa que abraçou lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz. É dele esta frase que bem serviria para a reflexão do vampiro argentino que se dizia sedento de sangue, médico como ele: "Tudo que é vivo deseja viver. Nenhum sofrimento pode ser imposto sobre as coisas vivas para satisfazer o desejo dos homens". Quem sabe usas uma camiseta com a estampa do pastor Dr. Albert Schweitzer?
Quero dizer da minha alegria, da minha felicidade de estar aqui, no dia de hoje, com cada um de vocês, que vieram de todos os cantos do estado – do litoral às barrancas do rio Paraná; das margens do Paranapanema às do rio Grande; do Vale do Ribeira ao Vale do Paraíba; da Grande São Paulo a todo nosso Interior.
Senadoras e senadores, deputados e deputadas, prefeitos e prefeitas, vereadores e vereadoras, tucanos e tucanas, militantes dos nossos partidos aliados, tantos rostos amigos e companheiros... Todos vocês representam simbolicamente a população do nosso Estado e isso nos fortalece e anima ainda mais.
Aproximam-se as eleições. É hora de o povo brasileiro reafirmar a sua vocação democrática e renovar as suas esperanças.
Aqui, em São Paulo, temos um dever e um compromisso. O dever de prestar contas do que temos feito, e o compromisso de fazermos muito mais.
Temos também de reconhecer – com a humildade de quem procura cumprir bem com as suas obrigações e com o respeito devido ao povo que as confiou a nós –, que São Paulo é hoje um estado renovado; que o extraordinário esforço de recuperação, fortalecimento e modernização, verificado nos últimos anos, tornou São Paulo melhor, e está permitindo que o atual governo realize a maior soma de investimentos de toda a nossa história: R$ 64 bilhões, até o final do ano.
Em São Paulo, podemos nos orgulhar do que cada governo tucano fez até agora. Covas ajustou as finanças do Estado. Assumi um estado sadio e avançamos. O Serra avançou ainda mais, com sua competência, trabalho e dedicação à causa pública. E o governador Alberto Goldman tem ainda à frente 8 meses de muito trabalho e realizações.
A história dos governos do PSDB é uma corrida de revezamento em que cada um dá o seu melhor, enfrenta seus obstáculos e passa o bastão para o sucessor.
No bastão, vai o coração de cada um de nós, o bater dos corações de todos os brasileiros de São Paulo. É uma corrida que exige preparação, fôlego, resistência e muito amor.
Fizemos o que fizemos não por vaidade, mas por obrigação, por dever. Para concretizar sonhos e compromissos, lutamos com todas as nossas forças, por nosso Estado, pelos brasileiros de São Paulo, pelas mulheres, jovens, trabalhadores, empresários; por todos os que, unidos, construíram esta terra.
Por isso, hoje nos dirigimos à opinião pública sem qualquer constrangimento e com a certeza de que temos honrado a sua confiança. E com a mesma seriedade e a mesma credibilidade com que iniciamos o nosso trabalho há dezesseis anos, assumimos, agora, o compromisso de honrar ainda mais essa confiança, oferecendo a nossa história, a nossa experiência e todo o nosso entusiasmo por São Paulo, como garantia de mais quatro anos de muito trabalho e de muitas realizações em benefício do nosso povo. Porque quanto mais se trabalha por São Paulo mais se ama São Paulo e mais se quer trabalhar – como faz a nossa gente em todo o território paulista.
E não haveria de ser diferente. Ao inaugurar uma nova era, na administração deste Estado, um dos homens mais notáveis da vida pública brasileira, o nosso querido e inesquecível líder, Mario Covas, recomendou a todos nós: “O que me importa é poder chegar ao fim do Governo tendo feito o melhor possível e com a mesma cara limpa com que entrei.(...) Este Governo tem a obrigação de ser sério (...) e não tem do que se envergonhar. Tem sobretudo algo do que se orgulhar: ele vai terminar como começou, com a mesma dignidade, com a mesma compostura, com a mesma seriedade.”
O trabalho ainda não acabou. Mas nós não esquecemos aquela recomendação. Ela é, de fato, a marca indelével dos nossos governos. Dessa trilha ética, sinalizada por Mario Covas, nós nunca nos distanciamos e nem nos distanciaremos!
Não há nisso nenhuma arrogância de propósito, nenhum brilho de retórica, nenhuma concessão à demagogia. Nossos governos não são e nunca pretenderam ser perfeitos. Não é e nunca foi nossa intenção governar engessados pela soberba. Uma das melhores lições que aprendi com Mario Covas foi a de que um governo de índole democrática, como o nosso, deve tomar as atitudes devidas, todas as vezes que alguém comprovar que ele está errado, e que o certo é seguir um outro caminho.
Não há como discordar disso. Sou dos que acreditam que um governo que ouve erra menos e acerta mais. A nossa crença na democracia impõe-nos esse comportamento como precondição para governar.
Hoje, mais uma vez, sustentamos publicamente a nossa convicção de que um governo ideal deve ter honestidade de propósitos, transparência de método, responsabilidade nas ações, justiça nas decisões, austeridade nos gastos, respeito pelas pessoas, mas que, acima de tudo, deve ter o interesse público como limite.
É por isso e para isso que estamos aqui. Para reafirmar a nossa disposição e o nosso compromisso de seguir em frente, agindo em consonância com as legítimas aspirações do povo paulista.
É assim que temos servido São Paulo, com fidelidade aos reais interesses da população.
É assim que o nosso Estado, hoje conduzido pelas mãos firmes do governador Alberto Goldman, tem enfrentado e deve continuar enfrentando o desafio de promover mais crescimento econômico com maior inclusão social.
E nós, do PSDB, não nos propomos a fazer isso sozinhos. Temos consciência de que, quanto mais a sociedade se fizer representada em nosso governo, tanto melhor para o governo e para a própria sociedade à qual devemos servir.
Por isso, tomamos a decisão de marchar juntos com outros partidos, numa ampla aliança que nos permita redobrar o trabalho e assegurar ainda maior prosperidade para todo o povo de São Paulo.
Portanto – ao cumprimentar o prefeito Gilberto Kassab, o ex-secretário estadual de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, quero saudar o Partido dos Democratas, que tem sido um grande aliado do PSDB, na promoção do desenvolvimento de nosso Estado e do Brasil.
Saúdo também, na pessoa do ex-governador Orestes Quércia, o PMDB – partido em cujas fileiras me iniciei na política e que sempre será merecedor da gratidão do povo brasileiro, por sua valorosa luta pela redemocratização do nosso País.
Quero também dar as boas-vindas ao PSC e ao PHS, congratulando-me com o deputado Régis de Oliveira e com a Nelita Rocha, pela gratificante presença de seus partidos e dos valores da doutrina social-cristã e do humanismo em nossa aliança.
Por fim, quero saudar, nas pessoas do Senador Sérgio Guerra e dos companheiros Barros Munhoz, Sidney Beraldo e Aloysio Nunes Ferreira, todos os nossos demais companheiros do PSDB, agradecendo à direção e à militância do nosso partido por esta grande manifestação de força, união e confiança que nos enche a todos de orgulho. E, aqui, permito-me fazer ainda uma justa homenagem aos companheiros José Aníbal e Mendes Thame, cujo relevante espírito partidário permitiu a coesão e o fortalecimento da nossa aliança.
Pois está formada a nossa união! E esta união não é feita apenas em favor de São Paulo. Ela é feita em benefício do Brasil. Porque o compromisso de fazer grandes coisas pelo Brasil não é só um lema gravado em prata, no brasão de armas do nosso Estado. É um sentimento inseparável da alma e do coração da nossa gente.
O tucano Geraldo Alckmin dá início neste sábado (8) a mais uma tentativa de governar o Estado São Paulo. A largada da pré-campanha será dada durante o Encontro Estadual do PSDB, realizado a partir das 9h00 no Expo Center Norte, zona norte da capital paulista.
Eleito governador em 2002, após ter chegado ao posto como vice de Mario Covas (PSDB), morto em 2001, Alckmin chega para a disputa na condição de franco favorito; segundo pesquisa Datafolha divulgada no final de março, sua candidatura registra 53% das intenções de voto, ante 13% de seu oponente direto, o senador Aloisio Mercadante (PT).
A vantagem de Alckmin tende a ser reforçada pelo extenso tempo de TV que o candidato deverá ter na campanha, por conta das alianças que seu partido conseguiu costurar em nível estadual com DEM, PPS, PSC e PHS. Além disso, o peessedebista poderá aproveitar os altos índices de popularidade deixados pelo agora presidenciável José Serra (PSDB), que deixou o cargo com 55% de aprovação, de acordo com o Datafolha.
Os tucanos dispõem também do valioso apoio do PMDB no Estado, cujo presidente regional, o ex-governador Orestes Quércia, irá apoiar José Serra (PSDB) na disputa pela presidência da República. No plano nacional, vale lembrar, o PMDB de Quércia está comprometido com a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff (PT).
Por Klauber Cristofen Pires
Retorno, mais uma vez, ao caso da energia elétrica. Não pretendo fazer da usina de Belo Monte um cavalo de batalha. Ela é somente um dado no caldeirão do neo-estatismo. Trago, não obstante, interessantes revelações fornecidas pelo jornal Diário do Pará, que sob o título "Vale suspende Termelétrica em Barcarena" revela: devido à transferência de ativos da Vale para multinacional norueguesa Norsk Hidro, fica suspensa - sem previsão - a construção de uma usina termelétrica que estava orçada em 898 milhões de dólares.
Às vezes fico pasmo com o efeito profético dos artigos que trato. Não que eu seja uma sumidade - de jeito nenhum, sou pouco mais do que um palpiteiro ponderado. Mas é que os fatos são se sucedendo em cascata, como um trem que vejo na estação já apitando para partir... O que me leva, no entanto, a insistir a transformar o meu pensamento em bites é o fato de saber o quanto de ignorância (ou de sonsa esperteza) bem-remunerada prevalece na mídia em geral.
Mas talvez esta não tenha sido a pior notícia. A matéria do jornal paraense acerta em cheio quando obtém de um dos dirigentes, Sr. Ricardo Carvalho, o motivo para o abandono da cadeia mais elaborada da produção do alumínio: "O problema é que nós temos limitação para o crescimento da produção de alumínio primário, já que falta no Brasil energia a preço competitivo".
Ainda segundo o entrevistado:
Prova disso, conforme frisou, é que a produção brasileira de alumínio primário tem se mantido estável nos últimos dez anos, período em que foram fechadas inclusive algumas plantas industriais. "Nós somos grandes exportadores de alumina, mas a produção de alumínio não cresce há uma década". Nem a hidrelétrica de Belo Monte, projetada para o rio Xingu, poderá fornecer energia competitiva para a indústria de alumínio. "A energia elétrica tem um custo muito pesado no Brasil devido a um conjunto de fatores. Entre eles, os impostos, taxas e encargos que oneram as tarifas", finalizou.
O governo gastou em publicidade R$ 196,8 milhões até março, 81,6% mais do que no primeiro trimestre do ano passado. Está mais empenhado, portanto, em manter a opinião pública informada e esclarecida, como compete a qualquer governo democrático. Essa é, pelo menos, a explicação normalmente usada como justificativa para os gastos governamentais com anúncios e com a promoção da imagem dos governantes.
A verba publicitária orçada para este ano, R$ 700,4 milhões, é 41,4% maior que a de 2009. O maior esforço de comunicação em ano eleitoral talvez seja coincidência sem grande significado. Foi assim, também, na última eleição, em 2006. Naquele ano, a publicidade total do governo, incluídas a administração direta e a indireta, chegou a R$ 1,27 bilhão em valores corrigidos pelo IGPM. Coincidências parecem ter datas marcadas para ocorrer.
A despesa com propaganda em 2006 foi a maior desse tipo entre os anos 2000 e 2009, segundo tabela publicada pela organização Contas Abertas. Nesse período, a média anual, em valores constantes, ficou em R$ 1,1 bilhão.
Em 2006, o candidato oficial era um presidente bem avaliado na primeira gestão. Tinha a seu favor a inflação contida, uma considerável transferência de renda para as famílias pobres e algum dinamismo econômico.
Considerando sua popularidade, seus auxiliares não devem ter pensado em falsificar foto de passeata nem cogitado alardear um mestrado e um doutorado jamais concluídos - no seu caso, nem mesmo tentados. Além do mais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre fez de sua escassa escolaridade um ativo eleitoral.
Para avaliar os gastos oficiais com publicidade, convém compará-los com outros itens do orçamento. No primeiro trimestre deste ano, o governo gastou em saneamento, com recursos do Tesouro, R$ 69,6 bilhões, pouco mais de um terço - 35,4% - do valor desembolsado com publicidade.
Em 2009, os desembolsos com a função saneamento chegaram a R$ 842,7 milhões, enquanto os gastos orçamentários com publicidade totalizaram R$ 495,1 milhões. As despesas contabilizadas na rubrica saneamento foram 70,2% maiores que os desembolsos com propaganda. Mas será essa diferença proporcional à importância social de cada uma dessas atividades?
Uma dessas tarefas é uma atividade-fim. Corresponde a uma das obrigações do governo. Nesse caso, trata-se de uma função essencial ao bem-estar da maior parte da população. Os mais carentes desse benefício são os mais pobres, sempre lembrados na retórica do presidente Lula. A outra é uma atividade-meio. Pode ser útil à sociedade, em certas circunstâncias, mas em geral é muito mais importante para os políticos instalados na administração pública.
Morales firmou o decreto de nacionalização na sede de uma das companhias, em Cochabamba, na região central da Bolívia, onde chegou de surpresa, acompanhado de alguns seus ministros. O governo informou que está comprando a participação dos acionistas privados, sem esclarecer o valor das operações.
As companhias elétricas nacionalizadas foram identificadas por Roberto Peredo, presidente da Empresa Nacional de Eletrificação (ENDE), que aponta ainda que foram abertas as negociações para a nacionalização de uma quarta companhia, a Empresa de Luz e Força Elétrica de Cochabamba, mantida por uma cooperativa de trabalhadores.
Ainda de acordo com ele, as nacionalizações são "uma das maiores conquistas da revolução cultural" no país. Ele lembrou que a companhia energética estatal da Bolívia foi privatizada em 1990 e "vendida a capitalistas neoliberais pelo preço de uma galinha morta".
Na área social o tripé correspondente ao da área econômica se compõe de: aumentos reais do salário mínimo, desde 1993; implementação a partir de 1997 das regras ditadas pela Lei Orgânica de Assistência Social, atribuindo uma pensão aos idosos e às pessoas com deficiências físicas de famílias pobres; e, por fim, bolsas que, com nomes variáveis, vêm sendo utilizadas com êxito desde o ano 2000. Esses programas, independentemente de que governo os tenha iniciado ou melhorado, tiveram o apoio de todos os partidos e da sociedade.
Infelizmente, nem em todas as áreas é assim. Sob pretexto de combater o neoliberalismo, joga-se no mesmo balaio toda política que não seja de idolatria ao "capitalismo de Estado", como se essa fosse a melhor maneira de servir ao interesse nacional e popular. Tal atitude revela um horror à forma liberal de capitalismo e à competição. Prefere-se substituir as empresas por repartições públicas e manter por trás delas um partido. No lugar do empresário ou da empresa a quem se poderia responsabilizar por seus atos e erros, coloca-se a burocracia como agente principal do desenvolvimento econômico, tendo o Estado como escudo. Supõe-se que Estado e povo, partido e povo, ou mesmo burocracia e povo têm interesses coincidentes. Outra coisa não faziam os partidos totalitários na Europa, os populistas na América Latina e as ditaduras militares.
As três principais escolas do pensamento político — legalistas, taoístas e confucionistas — estabeleceram-se entre os séculos VI e IV a.C. Grosso modo, os legalistas, a última das três grandes escolas, acreditavam simplesmente em conceder o máximo poder ao estado, e aconselhavam os governantes sobre como aumentar esse poder. Os taoístas foram os primeiros libertários do mundo, que acreditavam em virtualmente nenhuma interferência do estado na economia ou na sociedade, e os confucionistas encontravam-se no meio-termo nesta questão crucial. A elevada figura de Confúcio (551-479 a.C.), cujo nome real era Ch'iu Chung-ni, era a de um homem erudito vindo de uma família empobrecida, porém aristocrática, da decadente dinastia Yin, que se tornou marechal do estado de Sung. Na prática, ainda que muito mais idealístico, o pensamento confucionista pouco diferia do pensamento legalista, visto que o confucionismo era amplamente dedicado ao estabelecimento de uma burocracia filosoficamente educada para governar na China.
De longe, a mais interessante das escolas de filosofia política chinesa foi a taoísta, fundada pela figura muito importante, mas sombria, de Lao Tzu. Pouco se sabe sobre a vida de Lao Tzu, mas aparentemente ele foi um contemporâneo e conhecido de Confúcio. Como este último, era originário do estado de Sung e descendente da baixa aristocracia da dinastia Yin. Ambos viveram em uma época de tumultos, guerras e estatismo, mas cada um reagiu de maneira muito diferente. Lao Tzu desenvolveu a opinião de que o indivíduo e sua felicidade eram a unidade fundamental da sociedade. Se as instituições sociais prejudicassem o florescimento do indivíduo e sua felicidade, elas deveriam ser reduzidas ou completamente abolidas. Para o individualista Lao Tzu, o governo, com suas "leis e regulamentos mais numerosos que os cabelos de um boi", era um opressor cruel do indivíduo, e "mais temível do que os tigres ferozes". O governo, em suma, deve ser limitado ao mínimo possível; "inação" tornou-se a palavra-chave para Lao Tzu, uma vez que somente a "inação" do governo pode permitir que o indivíduo floresça e alcance a felicidade. Qualquer intervenção por parte do governo, declarou ele, seria contraproducente, e levaria a confusão e tumultos. Primeiro economista político a discernir os efeitos sistêmicos da intervenção governamental, Lao Tzu, após observar a experiência comum da humanidade, chegou à sua penetrante conclusão: "Quanto mais tabus artificiais e restrições existirem no mundo, mais empobrecidas serão as pessoas - quanto mais as leis e regulamentos forem colocados em destaque, mais ladrões e assaltantes existirão".
A pesada tributação e a guerra, segundo Lao Tzu, eram o que havia de pior nas intervenções governamentais. "As pessoas têm fome porque o roubo por superiores consome o excedente na forma de tributação" e "onde os exércitos estiverem posicionados, espinhos e silvas crescem. Depois de uma grande guerra, difíceis anos de fome certamente seguirão".
O caminho mais sensato é manter o governo simples e inativo para que o mundo então "se estabilize".
Como Lao Tzu coloca: "Portanto, o Sábio diz: eu não tomo nenhuma atitude e ainda assim as pessoas se transformam, eu favoreço a quietude e as pessoas se corrigem, eu não tomo nenhuma atitude e as pessoas se enriquecem".