domingo, 30 de maio de 2010

Maquiando Marx para Diminuir sua Feiúra

Parlata

Por Mario Guerreiro

Em 1988, discursando em Berlim Ocidental, Ronald Reagan disse: “Mr. Gorbachov, tear down this wall!” (ponha abaixo este muro!), mas não foi o dirigente soviético que atendeu ao apelo do presidente americano O muro foi derrubado em 1989 pelas marretadas de berlinenses indignados e enfurecidos. E em 1991, ocorreu a dissolução do Império do Mal, a URSS, surgindo assim uma nova etapa da história com características assaz pitorescas.

O marxismo não morreu, porém recebeu um golpe fatal, fortalecido pela abertura parcial da caixa preta da União Soviética, de onde surgiram mais insetos nojentos e repelentes do que quando um desavisado resolveu abrir a mítica Boceta de Pandora. Apesar da contundência do referido golpe, o marxismo estrebuchante tem se recusado a morrer numa lenta agonia. No entanto, inócuas mezinhas e frenéticas pajelanças ainda tentam salvá-lo.

Várias foram as reações dos marxistas empedernidos, seus acólitos e incautos simpatizantes, mas quero me ater a apenas uma reação típica: a de tentar nos persuadir que o diabo não é tão feio quanto se pinta, ou seja: Marx não foi bem compreendido por seus seguidores. Seu pensamento foi distorcido por aqueles que o puseram em prática em seus países. Mas talvez se os respectivos regimes tivessem durado mais uns setenta anos, ele acabaria dando certo...

Essa sutil estratégia retórica inclui ainda a manobra de isentar as ideias de Marx da responsabilidade pelas inúmeras atrocidades políticas e mazelas econômicas nos países em que estas foram postas em prática e, ao mesmo tempo, escolher um bode expiatório qualquer para ocupar seu lugar.

Certa vez ouvi da boca de um papagaio repetidor de idéias a seguinte pérola dita com um ar solene: “Stalin destruiu o sonho de Lenin!”, como se o “homem de aço” – em russo, “Stalin” quer dizer exatamente isto e era o apelido de Josef Vissarionóvich Djugachvili – tivesse transformado o belo sonho de Vladmir Ílitch Uliánov, vulgo “Lenin”, num horrendo pesadelo.

Quando, na realidade, ele transformou o pesadelo de Lenin na mais estúpida, selvagem e cruel realidade social. Fato histórico fartamente documentado, entre outros livros, por S. Courtois et allia: Le Livre Noir du Communisme: crimes, terreur, répression. Paris. Robert Laffont. 1997 (Há tradução: O Livro Negro do Comunismo) e por F. Furet: O Passado de Uma Ilusão: ensaio sobre a idéia comunista no século XX. São Paulo. Siciliano. 1995.

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