sexta-feira, 7 de maio de 2010

CUBA: AMARGURA E DOR

Por Peter Hof

OpiniãoLivre.com.br

Viagem ao crepúsculo. Cuba sem retoques

Recentemente assisti a um programa de debates sobre Cuba na TV por assinatura e um dos entrevistados era o jornalista Samarone Lima. No decorrer do programa fiquei agradavelmente surpreso com as intervenções dele. Foi quando soube que ele havia passado dois meses em Cuba tentando entender o que se passava no feudo dos irmãos Metralha Castro.

Ao contrário de Chic Buarque, Frei Betto, Fernando Morais e outras viúvas de Che Guevara, que se hospedam em hotéis de luxo a que só estrangeiros têm acesso e que nos mostram sempre uma visão cor-de-rosa, se desmanchando em loas à “realidade fantasiosa” contada nas páginas do Granma, o jornal oficial da ditadura castrista, Samarone Lima fez algo diferente: decidiu viver o dia-a-dia dos cubanos.

Para tanto, hospedou-se na casa de cubanos apresentados a ele por amigos brasileiros, viajou para o interior do país em trens e ônibus comuns, comeu em restaurantes populares (chamados de paladares), assistiu a jogos de beisebol e a peças de teatro ufanistas, acompanhou amigos nas filas de cartão de alimentos, hospedou-se em dormitórios para estudantes universitários (de onde foi expulso apesar de haver camas vagas) e, acima de tudo, documentou a via crucis dos cubanos na luta diária e sem fim para sobreviver em meio à miséria implantada pela ditadura comunista.

Toda essa rica experiência ele colocou em um livro intitulado, muito apropriadamente, “Viagem ao Crepúsculo”. Imediatamente me interessei em adquiri-lo e aí veio o primeiro obstáculo: nenhuma das grandes livrarias (Travessa, Saraiva, Submarino, Siciliano, Nobel e Leonardo da Vinci) tinha o livro, o que me levou a crer que ele certamente fora colocado no Index Librorum Prohibitorum das livrarias brasileiras. Assim, optei por adquiri-lo diretamente da editora, o que recomendo aos leitores que queiram saber a verdade, cuidadosamente escondida pelos arautos, da excelência do regime cubano. Os interessados devem escrever para a Casa das Musas ( casadasmusas@hotmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. ). O livro custa, frete incluído, R$36,00.

A obra de Samarone Lima é um retrato sem photoshop da (sobre)vida diária do cidadão cubano comum. Ao contrário do “babaovismo” desenfreado dos Freis Bettos da vida, ele não elogia nem critica o que se passa naquela ilha e limita-se a transcrever em um diário de viagem a que foram reduzidos 11,2 milhões de cubanos após cinquenta anos de uma brutal ditadura. Samarone deixa ao leitor a tarefa de concluir com base em suas agudas observações.

Os cubanos hoje “vivem de restos”, na palavra de uma das pessoas com quem o autor conviveu. Cinquenta anos de miséria e opressão transformaram-nos em um povo que, para sobreviver, precisa viver de expedientes – pequenas trapaças e roubos onde qualquer estrangeiro é uma vítima potencial, como no caso do garçom de um bar, ao perceber pelo sotaque que ele não era cubano, aumentou o preço do cafezinho de dois para três Pesos, sob o argumento que naquele dia o café estava mais forte e portanto mais caro. Ou dos motoristas de táxi que, ao perceberem um estrangeiro, aumentam o preço da corrida (desnecessário dizer que em Cuba não existem taxímetros).

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