quarta-feira, 29 de julho de 2009

A conexão latina da Casa Branca

Por Mary Anastasia O'Grady

OrdemLivre.org

Manuel Zelaya, o ex-presidente hondurenho, retornou a seu país na sexta, viajando de jipe da Nicarágua até uma cidadezinha na fronteira. Foi a primeira vez que esteve em Honduras desde que foi preso e deportado em 28 de junho por violar a constituição.

Mr. Zelaya parecia um tanto desapontado por seu retorno teatral não ter provocado um tiroteio. Poucas horas depois, voltou à Nicarágua, onde o presidente sandinista Daniel Ortega está lhe dando asilo.

Se Mr. Zelaya mantiver essa atitude, a crise pode se arrastar. Mas, não importando a maneira como esse impasse venha a se resolver, ele provavelmente será lembrado como um momento definidor para a política para a América Latina do governo de Barack Obama.

Mr. Zelaya tinha os meios, o motivo e a oportunidade para destruir as instituições democráticas do país e se preparava para fazer isso. Se conseguisse, teria consolidado seu poder do mesmo modo que Hugo Chávez fez na Venezuela, e transformado o país num Estado policial. A insistência de Mr. Obama em que Mr. Zelaya retorne ao poder fortaleceu a imagem condescendente e arrogante do Tio Sam, sempre por fora da realidade da região.

Os hondurenhos poderiam ter mais boa vontade em ouvir uma lição de democracia de Obama se os EUA demonstrassem algum interesse em enfrentar Mr. Chávez e seus aliados antidemocráticos, ou em entender os riscos que eles respresentam. Em vez disso, desde que assumiu o cargo em janeiro, o presidente americano abraçou os vilões da região, e depois sofreu o constrangimento de ver que seus novos “amigos” são na verdade inimigos da liberdade e da paz.

O constrangimento começou na Cúpula das Américas em abril em Trinidad, quando Mr. Obama praticamente abraçou Mr. Chávez como se os dois fossem almas gêmeas há muito distanciadas. O discurso do governo era que a tensão na região era causada por George W. Bush. O charmoso Mr. Obama mudaria tudo aquilo, e assim a influência americana cresceria de novo. Mr. Chávez não recebeu esse recado. Em 19 de julho, o Washington Post noticiou que um novo relatório do Government Accountability Office diz “que a corrupção nos altos escalões do governo do presidente Hugo Chávez e a ajuda estatal às narcoguerrilhas colombianas fizeram da Venezuela um grande ponto de saída para a cocaína destinada aos EUA e à Europa”. Agora Mr. Chávez vem dizer que vai derrubar o governo hondurenho.

No início de junho, Mr. Obama telefonou para Rafael Correa, presidente do Equador, para “felicitá-lo” por sua reeleição, e, de acordo com um porta-voz da Casa Branca, “expressar seu desejo de aprofundar nosso relacionamento bilateral e manter um diálogo constante a fim de assegurar uma relação produtiva, baseada em respeito mútuo”. Isso fez com que Mr. Obama parecesse desinformado outra vez, já que o desrespeito de Mr. Correa pelos interesses americanos é notório.

Ao fim de junho, eu disse em minha coluna que a inteligência militar colombiana tinha provas de que o governo de Correa apóia o grupo rebelde colombiano das FARC. Mr. Correa, furioso, correu para a frente das câmeras para ameaçar processar o Wall Street Journal. “Estamos cansados de suas mentiras”, avisava.

Mal sabia ele que poucos dias depois a Associated Press divulgaria um vídeo de um rebelde lendo uma carta do líder falecido das FARC a respeito de documentos “comprometedores” que mencionam o apoio financeiro das FARC à campanha presidencial de 2006 de Mr. Correa, e “acordos” com enviados de Correa. Sobre o assunto, o diário espanhol El Pais disse que “vários e-mails dos computadores de Raúl Reyes falam sobre a entrega de US$100.000 à equipe de campanha de Correa. A novidade é que um alto líder da guerrilha admite verbalmente a contribuição”. Mr. Correa nega a relação com as FARC e diz que isso é “uma armadilha”. Ele ainda não falou se vai processar todos os outros jornais que depois deram essa notícia.

Tendo estabelecido que ser bonzinho com os encrenqueiros da região é uma de suas prioridades, Mr. Obama agora quer que Mr. Zelaya — que recebeu o apoio das FARC semana passada — retorne ao poder em Honduras. Se Honduras não aceder, os EUA ameaçam bloquear bens e revogar os vistos das autoridades do governo interno.

Alguns observadores de Washington crêem que essa bizarra atitude se deve a Mr. Obama fiar-se muitíssimo nas sugestões de Gregory Craig, conselheiro da Casa Branca para a América Latina.

Mr. Craig foi o advogado de Fidel Castro — quer dizer, de Juan Miguel Gonzales, o pai de Elian Gonzalez — na repatriação do menino de sete anos em 2000, durante o governo Clinton. Durante a campanha presidencial, quando Mr. Craig era conselheiro de Mr. Obama, o Council on Hemispheric Affairs, organização de extrema-esquerda, apoiava Mr. Craig, que seria “o homem certo para reavivar as relações profudamente problemáticas entre os EUA e a América Latina”. Em outras palavras, para dar uma guinada política à esquerda.
Há muita especulação de que Mr. Obama está tirando sua política do “conhecimento” de Mr. Craig. Não é algo difícil de acreditar. De fato, se hoje todas as políticas saem de fora da Casa Branca, como dizem diversos observadores, então as idéias do conselheiro da Casa Branca podem explicar muita coisa.

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