terça-feira, 21 de julho de 2009

A guinada à esquerda dos EUA em Honduras

Por Mary Anastasia O'Grady




OrdemLivre.com





Quando Hugo Chávez pede ajuda a Washington pessoalmente, como fez no último dia 9 de julho, isso levanta sérias questões a respeito daquilo que o presidente Barack Obama tem sinalizado para o ditador mais perigoso do hemisfério.





O que está em questão é a determinação de Mr. Chávez em, valendo-se de pressões multilaterais, restabelecer no poder Manuel Zelaya, o presidente deposto de Honduras. Seu telefonema a uma autoridade do Departamento de Estado mostrou que sua campanha não estava indo bem, e que ele achou que poderia obter ajuda dos EUA.





Não são boas notícias para a região. O venezuelano pode achar que seus objetivos têm apoio bastante dos EUA e da OEA para que ele se sinta justificado em forçar Mr. Zelaya a Honduras, apoiando a derrubada violenta do governo atual. Que ele tenha motivos para pensar assim é mais um sinal de que o governo Obama está do lado errado da História.




Nas três semanas que já se passaram desde que o congresso de Honduras fez uma moção de defesa da constituição do país retirando Mr. Zelaya do cargo, ficou claro que sua prisão tanto aconteceu dentro da lei quanto foi uma precaução necessária contra a violência.





Mr. Zelaya estava tentando usar a oclocracia para enfraquecer as instituições hondurenhas exatamente como Mr. Chávez na Venezuela. Mas, como observou no Los Angeles Times em 10 de junho Miguel Estrada, advogado de Washington, as ações de Mr. Zelaya eram expressamente proibidas pela constituição hondurenha.





Como observou Mr. Estrada, “o artigo 239 diz especificamente que qualquer presidente que meramente proponha que se permita a reeleição ‘cessará imediatamente’ o desempenho de suas funções, e o artigo 4 estabelece que qualquer ‘infração’ das regras de sucessão constitui traição”. O congresso não tinha saída além de ir adiante. Reuniu-se, segundo Mr. Estrada, “imediatamente após a prisão de Zelaya”, condenando sua conduta ilegal, e votando avassaladoramente (122 a 6) por sua remoção do cargo.





Mr. Zelaya foi enviado para fora do país porque Honduras acreditou que sua prisão faria dele um pára-raio de violência. O presidente interino Roberto Micheletti prometeu que as eleições presidenciais marcadas para novembro aconteceriam normalmente.





Isso poderia ter encerrado o assunto se os EUA tivessem apoiado as leis de Honduras, ou simplesmente não tivesse interferido. Em vez disso, o presidente Obama e o Departamento de Estado juntaram-se a Mr. Chávez e seus aliados, exigindo que Mr. Zelaya retorne à presidência. Com isso, a Venezuela ficou mais ousada.




Em 5 de julho, Mr. Zelaya entrou num avião tripulado por venezuelanos, destinado a Tegucigalpa, sabendo perfeitamente que sua aterrissagem não seria permitida. Não fez diferença. Sua intenção era criar turbas e forçar um enfrentamento entre seus defensors e os militares. Funcionou. Uma pessoa morreu em confrontos perto do aeroporto.




Porém, a tragédia não rendeu a desejada condenação do governo de Micheletti. Em vez disso, ela fortaleceu os patriotas hondurenhos. Talvez porque a violência no aeroporto tenha reforçado a afirmação de que Mr. Zelaya é uma ameaça à paz.





Ele não foi o único a perder credibilidade naquele dia. José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, incentivou a encenação nos céus apesar de seus riscos evidentes. Ele chegou até a viajar num outro avião, atrás de Mr. Zelaya, para demonstrar apoio. O incidente destruiu qualquer possibilidade de Mr. Insulza ser considerado um mediador honesto, e também deixou claro que, ao insistir no retorno de Mr. Zelaya, os EUA estavam brincando com fogo.





No dia seguinte, Oscar Arias, presidente da Costa Rica, ofereceu-se para atuar como mediador entre Mr. Zelaya e o novo governo. Mr. Arias parece estar longe de ser um juiz imparcial, considerando que defende Mr. Zelaya. Mas também é verdade que a América Central tem muito a perder se houver guerra civil em Honduras. Por isso, é mais auspicioso para a democracia hondurenha negociar em San José do que sob os cuidados da OEA.





Outras pessoas influentes da região expressaram apoio a Honduras. Na semana passada, o jornal diário hondurenho El Heraldo noticiou que o embaixador de El Salvador à OEA disse que espera ver revogada a resolução que suspendia Honduras do grupo com a entrada do novo presidente do conselho permanente. O Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga condenou as táticas violentas de Mr. Zelaya e diz que Honduras não pretende imitar a Venezuela.





Mr. Chávez entende que a estrela de Mr. Zelaya está se apagando, e foi por isso que ele telefonou para a casa de Tom Shannon, o secretário-assistente para o hemisfério ocidental do Departamento de Estado, às 11h15 da noite de 9 de julho. Mr. Shannon me disse que Mr. Chávez “novamente argumentou em favor do retorno incondicional de Mr. Zelaya, ainda que tenha feito isso de maneira menos bombástica que no passado”.





Mr. Shannon diz que em resposta “sugeriu a ele que a Venezuela e seus aliados lidem com o medo convocando eleições livres e claras e pedindo uma transição pacífica para um novo governo”. Isso, segundo Mr. Shannon, “não aconteceu”.




Nem é provável que aconteça. Ainda assim, os EUA continuam fazendo muita pressão pelo retorno de Mr. Zelaya. Se conseguirem, é difícil que as turbas de Mr. Zelaya ou de Mr. Chávez fiquem subitamente amansadas.



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* Mary Anastasia O'Grady escreve a seção The Americas no Wall Street Journal.

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