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A imagem de um alemão tentando atravessar o muro de Berlim define bem a natureza demoníaca do comunismo. Aquela travessia, no mais das vezes, significava prisão ou morte. E mesmo assim os alemães arriscavam. Eles corriam para o outro lado como quem corre do diabo.
Vi na GNT um documentário sobre aquele monumento à opressão. Os telespectadores conheceram, entre outros casos, o de um piloto da Alemanha comunista que fugiu pelo ar para a Alemanha capitalista. Ao pousar numa pista que ele encontrou mais ou menos de memória (ele não tinha mapas precisos do outro lado), os funcionários lhe perguntaram se o avião estava com problemas. Naturalmente aquele avião não era esperado ali. E o piloto respondeu: "Não, não há problemas. De fato, eu diria que os meus problemas acabaram agora".
Ainda não. O piloto deixara para trás a mulher e a filha achando que, uma vez no outro lado, conseguiria buscá-las de algum jeito. Por três anos as autoridades da Alemanha capitalista negociaram com os comunistas para que a família pudesse se reunir. Vejam bem: três anos. Imaginem o drama desse homem temendo represálias da Stasi contra a esposa e a filha. E então, depois de três anos de impasse e angústia, elas desembarcam numa estação de trem no lado capitalista e se unem ao marido/pai. A família era uma só novamente, numa terra livre.
Outro caso emocionante foi o de três irmãos que também fugiram do comunismo pelo ar, em monomotores fantasiados de aviões soviéticos: os irmãos colaram estrelas vermelhas na fuselagem. Eles contam, com a empolgação do feito heróico, que os guardas do muro olhavam para os aviões, apontavam e gesticulavam, sem saber se deviam atirar. Um dos irmãos fez graça: "Eles estavam nos encarando, mas o que podiam fazer? Nós éramos soviéticos". O mais fantástico é que os irmãos acoplaram uma câmera na asa do avião e filmaram a fuga, da decolagem nervosa ao pouso no gramado do Reichstag. Sensacional.
São histórias e imagens lindas que nos chegam de Berlim. São as histórias que terminaram bem. É preciso lembrar, contudo, que para cada final feliz há centenas, milhares de tragédias. Homens, mulheres, crianças, idosos, pais, filhos, amigos separados fisicamente pela maior desgraça sobre a face da Terra no século XX: o comunismo.
Endosso aqui as palavras do professor Sachsida. Todos os alunos, de todos os níveis, deveriam aproveitar os festejos e perguntar aos professores - sobretudo os de história e geografia - o que eles acham do muro de Berlim. Peçam aos professores uma opinião sobre o regime comunista, o regime que confina seus escravos num paraíso cercado por concreto e arame farpado. É uma questão simples, e só existem duas respostas: a favor da liberdade do indivíduo ou a favor do sacrifício do indivíduo no altar do Estado.
Título original: "O outro mundo possível cercado por concreto e arame farpado"
Bruno Pontes é jornalista - http://brunopontes.blogspot.com
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