sábado, 21 de novembro de 2009

Ministério da propaganda

Por Sérgio da Costa Franco

ZERO HORA

Entre os numerosos ministérios criados no governo do presidente Lula, com vistas a satisfazer inesgotáveis apetites dos partidos que compõem a “base aliada”, ainda não existe, segundo nos consta, um Ministério da Propaganda e da Informação. Falha do planejamento? Carência de imaginação? Não cremos. O governo que foi capaz de inventar até um Ministério da Pesca, num país onde inexiste pesca industrial, não deixaria de projetar uma pasta especializada em fazer autopropaganda e em divulgar informações de interesse do comando político.

Em verdade, tal ministério não representaria grande novidade. Durante o Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, o famoso DIP, que despejava no país uma intensa e contínua publicidade do ditador e de seu governo, desde o difundir seu retrato em todas as repartições públicas, lojas, salas de aula e botequins do país, até o esparramar folhetos de doutrinação política e de divulgação de obras ou projetos do governo. Por via do DIP, o próprio presidente da República abandonou essa titulação convencional para ser chamado oficialmente de “chefe da nação”. O modelo não era criação nacional, nem sul-americana: procedia do Terceiro Reich, onde o eficiente Dr. Goebbels chefiava um ministério especializado na difusão das ideias nazistas e na propaganda do Führer.

Parece claro que o presidente Lula não seguiria tal modelo, incompatível com a ordem democrática. Mas o nosso receio é que, sem criar um específico Ministério da Propaganda, o governo esteja cogitando de transformar o Ministério da Educação em pasta assemelhada.

Vimos nesta semana algumas das questões propostas aos estudantes de todo o país pelo Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e ficamos abismados pela deliberada simbiose de propaganda governamental com prova de habilitação escolar. Longe de ser questionado sobre temas de genérico interesse nacional, independentes da pauta específica do governo, o estudante é forçado a pronunciar-se sobre o assunto incerto e novíssimo do Programa de Aceleração do Crescimento, que pouca gente conhece e que provavelmente não passa de uma plataforma eleitoral. Planos mal conhecidos do Ministério da Cultura e do Ministério da Educação são postos na mesa como se fossem regras constitucionais amplamente divulgadas. As próprias declarações do presidente Lula a respeito da crise financeira mundial, em contraponto com críticas que lhe dirigiu a imprensa, tornaram-se matéria de questionamento, evidentemente parcializado e apriorístico. E a questão 23 envolve, com reflexões dirigidas, claríssimas críticas aos veículos de comunicação e aos comunicadores, lançando o Ministério da Educação no rumo perigoso da hostilidade à imprensa independente, seguindo a orientação de Hugo Chávez, o novo guru da América do Sul.

Estaremos marchando para a ressurreição do DIP? E, desta vez, um DIP incorporado ao próprio Ministério da Educação?

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