Por Richard W. Rahn
Será a atual recessão a pior desde a Grande Depressão? Apesar de o presidente, muitos membros do Congresso e muitos jornalistas repetirem continuamente que estamos vivendo a pior recessão desde a década de 1930, afirmar isso é no mínimo prematuro.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, de 1945 a 1946, houve uma queda muito acentuada (12,1%) na produção dos Estados Unidos, à medida que a economia de guerra começava sua transição para uma economia civil. A mais profunda e duradoura recesão por que os Estados Unidos passaram desde então começou em 1980, quando Jimmy Carter foi presidente (o produto doméstico bruto caiu 9,6% no segundo trimestre daquele ano) e não terminou até o quarto trimestre de 1982, já no segundo ano da presidência de Reagan. Houve trimestres positivos neste período de quase três anos, resultando no que é conhecido como dupla recessão, mas o produto doméstico bruto não voltou ao nível de 1979 antes de 2003. O desemprego atingiu o ápice de 10,6% no outono de 1982.
Tanto Reagan quanto Obama herdaram uma economia que sofria com um ano sem crescimento e desemprego em ascensão. (Os números são quase idênticos.) Mas Reagan enfrentou uma situação bem mais lúgubre, com a inflação na casa das dezenas e a taxa de juro preferencial em 20%. Obama, ao contrário, herdou uma economia na qual a inflação estava caindo (na verdade, a inflação esteve próxima de zero neste ano) e as taxas de juros, muito baixas.
Uma situação na qual o número de empregos disponíveis está caindo já é ruim o bastante, mas se além disso a inflação está destruindo o poder aquisitivo, cresce a miséria. Nos anos 1960, o economista Arthur M. Okun criou o Índice da Miséria, adicionando a taxa de desemprego à taxa de inflação. Na corrida presidencial de 1976, Jimmy Carter frequentemente atacou Ford por permitir que o Índice da Miséria alcançasse os 13,57%, embora este estivesse mais baixo quando Ford deixou o cargo do que o número herdado da era Nixon. Ironicamente, quatro anos depois, quando Carter estava concorrendo contra Ronald Reagan, o Índice da Miséria atingiu um recorde de 21,98%. Carter não teve como se defender, e perdeu a eleição. O Índice da Miséria caiu mais de dez pontos durante a presidência de Reagan, a maior melhora durante o mandato de qualquer presidente nos últimos 50 anos.
Os economistas não estão em total acordo quanto à definição precisa de uma recessão, embora "recessão" seja geralmente entendida como dois ou mais trimestres consecutivos de crescimento econômico negativo. O National Bureau of Economic Research (NBER), uma organização privada, funcionou como uma autoridade na definição de recessões nos Estados Unidos. O NBER usa uma variedade de fatores — incluindo seu julgamento, e não apenas mudanças no PDB — para caracterizar uma recessão. Outros economistas e organizações, como o Fundo Monetário Internacional, usam definições diferentes da proposta pelo NBER. Recessões podem durar apenas oito meses, como as recessões de 1990-91 e 2001, ou podem se estender por mais de um ano. Depressões normalmente são definidas como uma recessão de 10% ou mais, com mais de quatro anos de duração.
Obama escolheu uma abordagem diametralmente oposta à de Reagan para reiniciar a máquina de crescimento econômico. Reagan fez pressão por cortes nas taxas marginais de imposto, para encorajar as pessoas a trabalhar, economizar e investir, na tentativa de impulsionar a economia pelo lado da oferta, e não apenas pelo lado da demanda. Obama escolheu apenas aumentar enormemente os gastos do governo em uma tentativa de aumentar a demanda, enquanto, ao mesmo tempo, muitas de suas novas regulamentações trabalhistas, ambientais e energéticas, além de outras, obstruem o lado da oferta.
Obama teve a vantagem de ter ambas as casas do Congresso controladas por seu partido, de modo que pôde aprovar seu pacote de estímulo poucas semanas depois de assumir. Reagan foi prejudicado por ter o partido de oposição no controle da Câmara de Deputados, cujos membros atrasaram (até agosto de 1981) e diminuíram seu pacote de redução de impostos.
Na verdade, os cortes de impostos de Reagan não foram completamente implementados até 1983, mais de dois anos depois de ele assumir o cargo. Reagan, tolhido pela oposição do Congresso, não conseguiu a restrição ao crescimento dos gastos que desejava, de modo que substanciais déficits orçamentários ocorreram já no início de seu governo, alcançando em certo ponto 6% do PDB. Retrospectivamente, os déficits de Reagan parecem pequenos comparados ao déficit de 13,5% do PDB este ano, e às projeções do governo e do Escritório de Orçamento do Congresso de enormes déficits nos anos futuros.
Uma vez que os cortes de Reagan estavam largamente implementados, a economia decolou — cresceu 7,6% só em 1984. Estamos no meio de um experimento interessantíssimo. O governo e o Escritório de Orçamento prevêem crescimento econômico ininterrupto do fim deste ano até 2019. Se eles tiverem razão, a recessão de 1980-82, e não a atual, continuará a ser o mais longo período contínuo sem crescimento econômico desde a Segunda Guerra Mundial. Se estiverem errados, eles de fato terão a pior recessão desde a Grande Depressão, e ninguém a culpar exceto a si próprios.
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