sábado, 10 de outubro de 2009

A direita do rock


Dave Mustaine, do Megadeth, compra brigaao revelar sua faceta conservadora


Por Sérgio Martins




No mundo americano do entretenimento, um muro ideológico separa os artistas de música country dos astros do rock. Os primeiros, grosso modo, são conservadores e têm um discurso nacionalista. Os roqueiros, por sua vez, se alinham em peso com os políticos e as políticas liberais (caso não sejam completos alienados, o que também é freqüente). Por isso, cada vez que um artista se desgarra de sua respectiva fileira e pula o muro, o acontecimento é motivo de discussões acaloradas ou mesmo de animosidade explícita – um estado de coisas que só fez se acentuar desde o 11 de Setembro. Em 2003, por exemplo, o popularíssimo trio feminino de country Dixie Chicks foi banido da programação de 262 rádios americanas porque, num show, uma das vocalistas tentou levantar uma vaia contra o presidente George W. Bush e a intervenção no Iraque. Agora, a polêmica se repete – mas no sentido inverso – com a briga entre o Megadeth, grupo que se notabilizou por tocar rock em velocidade acima da permitida, e a Organização das Nações Unidas. United Abominations (Abominações Unidas), novo disco da banda, acusa o órgão de conluio com grupos terroristas e repisa uma suspeita de corrupção envolvendo o filho de Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU.


O outro protagonista da briga é Mark Leon Goldberg, jornalista do blog UN Dispatch – apoiado pela Fundação ONU, mas sem vínculo editorial com a entidade. Goldberg dissecou todas as canções de United Abominations e ironizou – com razão – os ralos dotes intelectuais de Dave Mustaine, vocalista e guitarrista do Megadeth. "O sujeito confunde Hamas com Hezbollah; que dirá de outras questões que coloca no disco", ironizou o jornalista. Mustaine revidou dias depois, dizendo que o álbum poderia até conter informações erradas, mas refletia o que sentia como "um patriota que ama Deus, sua pátria e sua família".


Mustaine já foi um roqueiro que defendia causas liberais. Sua conversão em conservador, porém, não é inédita no showbiz. No começo de carreira, na década de 50, o cantor Elvis Presley era tido como uma ameaça aos bons costumes. Em 1970, enquanto ainda corria a Guerra do Vietnã, ele baixou na Casa Branca para saudar Richard Nixon – ocasião em que foi também alçado ao posto de "embaixador da juventude" dos Estados Unidos e criticou os Beatles e os Rolling Stones, que, segundo ele, incentivavam os jovens a consumir drogas. (Detalhe: quando fez tal declaração, Elvis só funcionava à base de substâncias ilícitas.) Outro caso curioso é o do cantor canadense Neil Young. Nos anos 70, ele protestou contra o governo Nixon e, na canção Ohio, acusou o presidente de ser cúmplice num massacre de estudantes universitários. Na década seguinte, Young surpreendeu ao declarar seu apoio ao também republicano Ronald Reagan. Na ocasião, ele se explicou dizendo que não acreditava na divisão entre liberais e conservadores, mas sim entre bons e maus governos. Young, pelo visto, não estava falando da boca para fora, visto que recentemente advogou o impeachment de George W. Bush. Bem mais raros são exemplos como o de Johnny Ramone, líder do grupo punk The Ramones, que se orgulhava de ter votado em todos os candidatos do Partido Republicano e, certa feita, terminou um discurso de agradecimento com a frase "Deus salve George W. Bush e a América".


Vale frisar que, nos Estados Unidos, mesmo os roqueiros mais à esquerda reservam uma postura pública de solidariedade aos seus soldados – por não serem eles os artífices das guerras, mas suas vítimas potenciais, e também em virtude de uma tradição consolidada na II Guerra, quando todas as celebridades se dedicavam a apoiar ou animar as tropas. Não é por essa linha mais razoável que segue o Megadeth. "Sou um soldado hi-tech. / Tenho infravermelho, tenho GPS, / tenho o bom e velho chumbo.... / Nossas tropas limpam o lixo para a velha e boa América", prega uma das letras de Mustaine no novo álbum. E ele a canta com um fervor de deixar qualquer conservador de carteirinha no chinelo.


CONSERVADOR COM MUITO ORGULHO


ELVIS PRESLEY

Quem apoiou: Richard Nixon

Prova de admiração: defendia a cruzada do ex-presidente republicano contra as drogas e chegou a fretar um avião para visitá-lo na Casa Branca.


NEIL YOUNG

Quem apoiou: Ronald Reagan

Prova de admiração: o roqueiro foi seu cabo eleitoral de primeira hora e até hoje enaltece suas realizações.


JOHNNY RAMONE

Quem apoiou: Ronald Reagan, George W. Bush

Prova de admiração: para horror de seus colegas esquerdóides no Ramones, o guitarrista era um conservador. Na festa de entrada da banda para o Hall da Fama, cobriu Bush de elogios.


MEGADETH

Quem apoiou: George W. Bush

Prova de admiração: o novo CD dos metaleiros acusa a ONU de "terrorismo" e defende as intervenções americanas no Oriente Médio.




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