sábado, 5 de setembro de 2009

Obama versus a democracia hondurenha


Por Mary Anastasia O'Grady




Se o governo Obama fosse uma frota de navios, estaria enviando um sinal de SOS agora mesmo. Seu plano de saúde bateu no equivalente político de um iceberg. E na semana passada o prestígio internacional do presidente foi detonado pelos escoceses, que libertaram o responsável pelo atentado de Lockerbie sem demonstrar a menor consideração pelos interesses americanos. A promessa de campanha de Obama de reinstaurar o bom senso no gerenciamento orçamentário foi para o brejo.


O governo precisa de uma vitória. Ou, mais precisamente, o governo não tem como arcar com outra derrota nesse momento. Sobretudo, o governo não pode se dar ao luxo de ser derrotado por um paisinho da América Central que não conhece seu lugar e ousa questionar as ordens imperiais do Tio Sam.


Claro que estou falando de Honduras, que, apesar de dois meses de intensa pressão de Washington, continua se recusando a restabelecer Manuel Zelaya, o presidente deposto. Na semana passada, o governo engrossou a fala e deixou claro que pretende usar tudo que tem para quebrar o pescoço da democracia hondurenha. As ameaças podem funcionar. Mas o governo nunca poderá se gabar daquilo que fez.


O exemplo mais recente da política de boa vizinhança no estilo Obama foi o anúncio, semana passada, de que estavam suspensos indefinidamente os vistos para hondurenhos, e que cerca de US$135 milhões em ajuda bilateral poderiam ser cortados. Mas esses são só os exemplos públicos das táticas pesadas. Há coisas muito mais sérias acontecendo nos bastidores, vindas de um presidente que prometeu ao povo americano maior transparência e uma política externa menos intervencionista.


Recapitulando as forças armadas de Honduras executaram em junho um mandado contra Zelaya por ele ter tentado realizar um referendo sobre a possibilidade de reeleição. O artigo 239 da constituição hondurenha afirma que qualquer presidente que tente um segundo mandato perde automaticamente seu cargo. Ao insistir que Zelaya volte ao poder, os EUA tentam forçar Honduras a violar sua própria constituição.


O governo também está pedindo aos hondurenhos que arrisquem ter o destino da Venezuela. Eles sabem que Hugo Chávez foi eleito democraticamente em 1998 e se transformou em ditador vitalício daquele país, o que obteve destruindo os freios e contrapesos institucionais do país. Quando Zelaya tentou fazer o mesmo em Honduras, a nação cortou o mal pela raiz.


Para Chávez, o retorno de Zelaya ao poder é crucial. O venezuelano está espalhando ativamente sua mensagem marxista pela região, e Zelaya era seu homem em Tegucigalpa.


A resposta hondurenha é um grande golpe para Caracas. É por isso que Mr. Chávez mobilizou a esquerda latina para exigir o retorno de Zelaya. Semana passada, Leonel Fernández, presidente dominicano, juntou-se à turba, pedindo que Honduras fosse expulso do CAFTA-RD. Fernandez é um grande amigo de Chávez, além de beneficiário do programa venezuelano de trocar, no Caribe, petróleo por obediência.


Obama aparentemente quer entrar na festinha esquerdinha. Essencialmente, ele concorreu à presidência contra George W. Bush. Bush não era apreciado em círculos socialistas. O atual governo que mostrar que pode ser legal com Chávez e seus amigos.


Os métodos de Obama decididamente não são legais. Hondurenhos importantes, incluindo membros proeminentes da comunidade empresarial, estão reclamando que uma autoridade do Departamento de Estado foi pressioná-los a fazer com que o governo interino aceite o retorno de Zelaya ao poder.


Quando perguntei ao Departamento de Estado se estava mesmo usando esses truques sujos, uma porta-voz respondeu apenas que os EUA estavam “incentivando membros da sociedade civil a apoior o ‘acordo’ de San José — que pede o restabelecimento de Zelaya. Talvez algo tenha se perdido na tradução, mas ameaças de usar o poder americano contra um país pequeno e pobre não podem ser bem chamadas de incentivo.


Em outras partes da região ouve-se que autoridades americanas vêm pedindo a governos latinos que apoiem a posição dos EUA. Quando perguntei ao Departamento de Estado se isso era verdade, uma porta-voz não respondeu a questão. Ela só disse que os EUA estão ‘cooperando com a [OEA] e Oscar Arias [presidente da Costa Rica] para defender o acordo de San José”.


Em outras palavras, ainda que não vá admitir a coerção, os EUA estão pressionando fortemente a OEA a fazer valer seus objetivos.


Isso não só parece injusto com a democracia americana, como ainda parece contradizer a posição americana anterior. Numa carta ao senador Richard Lugar em 4 de agosto, o Departamento de Estado afirmou que sua “estratégia não se baseia em nenhum político ou indivíduo em particular”, mas em encontrar “uma resolução adequada ao povo hondurenho e a suas aspirações democráticas”.


Muitos hondurenhos acham que os EUA não estão de jeito nenhum usando seu soco-inglês para servir a suas “aspirações democráticas”, mas as aspirações diametralmente opostas de um bandido da vizinhança.


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