Por Eduardo Mackenzie
Os colombianos não esquecem quem é o senhor Miguel D'Escoto, atual presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas até o próximo dia 16 de setembro. Ele aproveitou essa posição elevada para pô-la aos pés de uma das piores ditaduras do universo.
Há alguns dias Miguel D'Escoto outorgou a Fidel Castro o título de "herói mundial da solidariedade". Graças às intrigas do funcionário nicaragüense, a Assembléia Geral da ONU embarcou nesse alucinante gesto que empana a imagem da organização. Feliz, a ditadura cubana respondeu imediatamente, entregando a D'Escoto uma medalha. Em cerimônia realizada em Havana o líder sandinista recebeu a Ordem da Solidariedade, com a qual os irmãos Castro premiam seus amigos mais fiéis.
Sacerdote suspenso pelo Vaticano nos anos 1980, por seu respaldo a uma organização que praticava a violência, D'Escoto disse se sentir "emocionado" por um reconhecimento que considera sua razão de ser como militante da Frente Sandinista de Libertação Nacional. Disse estar muito orgulhoso de haver sido "testemunha da revolução cubana" e de ter estreitos vínculos durante décadas com o ditador Fidel Castro. Este, para recompensá-lo, lhe concedeu a entrevista da qual D'Escoto saiu andando nas nuvens. Disse que estas três horas passadas com Fidel Castro foram "um presente de Deus". Dias antes, D'Escoto havia se comprometido a exigir ao governo de Barack Obama a libertação de cinco espiões castristas presos nos Estados Unidos.
Após ser eleito para esse cargo na ONU, D'Escoto declarou que sua prioridade seria a de pôr fim à "dominação" dos Estados Unidos e da Europa nas Nações Unidas, especialmente no Conselho de Segurança. O diplomata sandinista, entretanto, não havia advertido ao bloco latino-americano que o apoiou nessa eleição que esse seria seu programa. D'Escoto tampouco esconde seu ódio a Israel. Ele pede que a comunidade internacional considere a possibilidade de sancionar e boicotar o Estado judeu, o que foi aplaudido por Teerã e outras ditaduras do Oriente Médio.
Miguel D'Escoto, um dos poucos padres latino-americanos que continuam crendo na chamada "teologia da libertação", que gerou tanta opressão e violência no continente, tem contas pendentes com a Colômbia. Em 1986, Augusto Ramírez Ocampo, ministro de Relações Exteriores da Colômbia, enviou uma carta a D'Escoto que era nessa época ministro de Relações Exteriores da Nicarágua. Bogotá dizia nesse documento que dentre as armas utilizadas pelos terroristas do M-19 em seu sangrento ataque ao Palácio da Justiça de Bogotá, em 6 de novembro de 1985, no qual levaram à morte 115 pessoas, havia fuzis e metralhadoras que pertenciam à Nicarágua.
Ramírez Ocampo pediu a D'Escoto uma "explicação rápida e satisfatória" de como e porquê essas armas haviam chegado às mãos do M-19. Miguel D'Escoto nunca deu uma resposta séria à Colômbia. Como esse mistério não foi esclarecido (os ex-chefes do M-19 continuam calados a respeito), seria necessário que os juízes colombianos que se ocupam do tema do Palácio da Justiça, se mostrem mais diligentes e convoquem Miguel D'Escoto para que esclareça que papel ele teve como ministro sandinista no fornecimento dessas armas aos terroristas colombianos.
Anos atrás, em 1980, como membro do governo de Daniel Ortega, Miguel D'Escoto havia inventado um desacordo artificial contra a Colômbia, que torpedeia desde esse momento as relações Bogotá-Manágua, ao declarar nulo o tratado Bárcenas-Esguerra, mediante o qual a Nicarágua reconheceu a soberania colombiana sobre uma zona marítima de 50.000 km no Mar das Antilhas, onde se encontra o arquipélago de San Andrés e Providencia, e o Roncador e Quitasueño. Em 2001, Manágua entabulou ante a Corte Internacional de Justiça um libelo contra a Colômbia, sem conseguir até hoje uma decisão a seu favor.
A responsabilidade desse assunto, que a Nicarágua sandinista tentou converter em um pleito internacional contra a Colômbia, a devemos a Miguel D'Escoto. Entretanto, a Nicarágua devia uns quantos favores diplomáticos à Colômbia em sua qualidade de país fundador do Grupo Contadora. Criado em 8 de janeiro de 1983, pelos presidentes da Colômbia, Panamá, Venezuela e México, esse organismo se opôs à política de Ronald Reagan contra os esforços subversivos de Havana na Nicarágua e na América Central. Subscrita em julho do mesmo ano pelo Grupo, a "Declaração de Cancun" propiciou a nomeação por Washington da Comissão Kissinger, destinada a estudar a natureza dos interesses dos Estados Unidos na região centro-americana e as ameaças que existiam contra esses interesses. Após vinte meses de negociações com os países centro-americanos, Contadora apresentou sua "Ata de Paz", em 7 de setembro de 1984, a qual foi aceita pela Nicarágua. Isso abriu o caminho para a resolução de 11 de novembro de 1984 da Assembléia Geral da ONU, favorável aos sandinistas e às suas aventuras na América Central, o que foi seguido de uma moção européia similar em janeiro de 1985.
Em que pese a isso, Miguel D'Escoto não abandonou jamais, nem nessa época nem depois, até hoje, sua antipatia pela Colômbia. Sua responsabilidade nos fatos trágicos do Palácio de Justiça, e sua constante agitação contra os direitos inalienáveis da Colômbia no arquipélago San Andrés e Providencia, são fatos inamistosos que não se apagarão facilmente da memória dos colombianos.
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