Por Hélio Angotti Neto
A segunda Guerra terminou! E o totalitarismo se expande e é levado até suas últimas consequências. Assim acontece no livro de George Orwell, ficção feita como aviso ao futuro sobre os males que o autor identificara na sua ideologia prévia, no momento de sua desilusão com o comunismo.
Lá no livro está o Partido Socialista Inglês, o super-partido que é a razão última da existência e agente coletivo do poder. Gramsci se sentiria em casa, pois o seu príncipe partidário e maquiavélico é facilmente reconhecível no Grande Irmão Orwelliano. Não se honra o país, a família, a religião; se vive e se honra somente o partido. O partido de 1984 é eterno, onisciente, onipotente e onipresente numa caricatura porca da Divindade renegada pelos homens. É o fechamento do ser humano à transcendência como Voegelin bem notara em sua época.
Lá está o duplipensar, caracterizado por aceitar contradições óbvias e acabar num emburrecimento completo, tornando-se incapaz de enxergar o óbvio perante o nariz. O Estado laico proíbe cristianismo nas escolas, mas ao mesmo tempo estimula o ensino das religiões africanas. O Estado não permite pena de morte, mas estimula a morte maciça de crianças no abortamento. O Estado prega a igualdade de direitos, mas favorece minorias declaradamente. O Estado prega a distribuição de renda, mas na verdade acumula poder num partido que engloba e afunda a noção de país soberano. O Estado proíbe drogas, mas está aliado a narcotraficantes terroristas de outros países.
Em 1984 encontramos o controle dos pensamentos, um politicamente correto de nossos dias levado às últimas consequências. Lá o indivíduo é uma ilusão, e somente o coletivo do partido existe e é eterno.
Lá está a novafala (ou novilíngua), com seus conceitos que proíbem pensamentos. E aqui temos as palavras que são imbuídas de preconceitos paralisantes e dementes. O reacionário, a direita, o católico, o crente, o religioso, o certinho, e tantas outras palavras que são muitas vezes assumidas ou ditas com um pedido encoberto e covarde de desculpas.
Lá está o subjetivismo moderno e a recusa de uma realidade objetiva, subjetivismo este que motiva nossa política e nossa iletrada classe letrada.
O'Brien, o terrível agente da Polícia das Idéias e carrasco do Ministério do Amor (onde se encontram os presos políticos), hoje é visto nos nossos intelectuais subjetivistas e niilistas, que apóiam partidos e desconstroem o passado e a realidade. Como Viktor Frankl dizia, a culpa dos campos de concentração está nos filósofos niilistas ganhadores de prêmios internacionais.
O passado no 1984 inclemente de Orwell é um brinquedo na mão do partido. Fatos são reescritos e a memória se perde num emaranhado de anseios políticos de dominação. Hoje nossos livros de história são porcamente escritos com propagandas descaradas que elogiam genocidas brutais e desumanos como Stalin e Mao.
Orwell captou bem o objetivo da elite pensante por trás das ideologias de massa: acumulação do poder, da força. Criar uma nova elite brutalmente poderosa. Controlar são só a economia, mas a mente e o coração.
O núcleo do partido deixou de ser composto por guerreiros e nobres, tornando-se uma elite de burocratas intelectuais. O resto do partido se enquadra no que Lênin chamava de inocentes úteis, passíveis de serem eliminados uma vez que se tornassem inconvenientes. O proletário continua proletário, mais pobre e mais oprimido, achando que melhorou, manobrado pelas idéias de seus governantes. Os inocentes úteis são os nossos intelectuais de segunda ordem, os professores e sociólogos que acham fazer um bem ao pregar suas ideologias ultrapassadas.
Ainda bem que Orwell não viveu para ver o Brasil de hoje! Ele morreria muito preocupado, percebendo que suas palavras foram jogadas ao vento.
E no fim, o herói morre aprendendo uma severa lição: quando finalmente o ser humano se dobrar de corpo e alma à tirania, seu prêmio irremediavelmente será a aniquilação...
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