quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Coréia do Norte - ponto cego dos direitos humanos


Por PIERRE RIGOULOT


L'Express


Coréia do Norte é um pouco o ponto cego dos políticos e das organizações de defesa dos direitos humanos. Hoje, ninguém - ou quase ninguém - denuncia essa monstruosidade entrincheirada que esconde 200 mil presos em campos de concentração, traz de volta seus fugitivos com um fio de arame farpado passado pelas bochechas e pratica a chantagem à guerra para obter uma ajuda alimentar da comunidade internacional. É verdade que as portas do "reino eremita" - assim é designado às vezes o Estado norte-coreano - estão bem fechadas e que qualquer informação a ele relativa sofre por seu caráter incerto ou pontual. Alguns desertores, viagens muito organizadas e fotos satélite não bastam para elaborar um requisitório global irrefutável. É verdade que, a exemplo de Sartre, que acusava injustamente a Coréia do Sul por ter desencadeado a guerra contra o norte em junho de 1950, a esquerda não gosta muito de atacar só a "República Popular Democrática". Um bom exemplo dessa complacência com relação ao norte é dado pelas surpreendentes discussões atualmente em andamento dentro do Partido socialista francês: deve-se ou não convidar para o congresso de Brest os representantes do Partido trabalhista coreano? Esses arqui-stalinistas, indesejáveis até em La Courneuve para a festa da Humanidade, poderiam ser recebidos em nome do "diálogo" e das boas relações que François Mitterrand mantinha com o ex-nº 1 norte-coreano? Não ousamos acreditar nisso...


A existência de vítimas do comunismo coreano não data de ontem. Bem antes da instauração da República Popular Democrática da Coréia, em 9 de setembro de 1948, na parte do país que havia sido ocupada pelo exército soviético ao norte do 38º paralelo depois da derrota do Japão, grupos concorrentes enfrentaram-se, ocorreram expurgos e liquidações. Os nacionalistas foram perseguidos por Kim Il-sung, o chefe de uma pequena unidade de guerrilha anti-japonesa na Mandchuria, chegada nos furgões soviéticos em 1945, e depois foi a vez dos comunistas que viviam no país há muito tempo. Expurgos sacudiram em seguida regularmente o Partido trabalhista coreano -- expurgos que, segundo se calcula, fizeram até os últimos anos perto de 100 mil mortos.


Depois de três anos de guerra, só um armistício foi assinado, em julho de 1953, que não impediu as incursões do Norte. Entre os golpes dados pelo Norte, citemos o ataque, por um comando de 31 homens, contra o palácio presidencial sul-coreano, em 1968, o atentado de Rangun, na Birmânia, dirigido em 9 de outubro de 1983 contra os membros do governo de Seul ou a explosão em pleno vôo de um avião da Korean Air Lines em 29 de novembro de 1987, com 115 pessoas a bordo.


Recentemente, surgiu outro motivo grave de contestação do regime norte-coreano: a situação alimentar. Esta, medíocre há muitos anos, piorou, a ponto das autoridades lançarem apelos à ajuda internacional. A Coréia do Norte invoca diversas catástrofes naturais, mas as principais causas dessa penúria alimentar são próprias de toda agricultura socialista, planificada, centralizada. O desmoronamento do comunismo na URSS e o novo curso que tem lugar na China fizeram a ajuda desses dois países à Coréia do Norte diminuir muito. A falta de divisas também pesa sobre o governo norte-coreano.


O segredo é tal nesse país que se hesita ainda: carestia ou miséria? E qual é a parte de manipulação das informações pelo poder coreano? A pletórica armada do Norte não morre de fome, em todo caso. E isso explica as reticências de certos observadores diante da ajuda ocidental fornecida sem contra-partida.

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