sábado, 15 de agosto de 2009

Os amigos hondurenhos das FARC


Por Mary Anastasia O'Grady




O presidente americano Barack Obama, o primeiro-ministro canadense Stephen Harper e o presidente mexicano Felipe Calderón estão em Guadalajara, no México, para a Cúpula de Líderes da América do Norte. Entre outras coisas, discutirão o que fazer a respeito da explosão de violência relacionada ao tráfico de drogas no continente. Mas também há expectativa de que toquem na situação política de Honduras.


É uma pena que o ministério da defesa colombiano não esteja presente, pois poderia oferecer provas da conexão entre os defensores hondurenhos do presidente deposto Manuel Zelaya e o mais importante fornecedor sul-americano de drogas ilegais para a América do Norte - as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Sei disso porque essas provas recentemente chegaram a mim.


A FARC é um grupo forte no comércio de cocaína. No ano passado num ataque a um campo da FARC no Equador, as forças armadas colombianas encontraram documentos em computadores que mostram que os rebeldes têm atuado em Honduras. Alguns desses documentos chegaram às minhas mãos semana passada. Um deles é uma carta de março de 2005 a Raúl Reyes, líder rebelde hoje falecido, de outro honcho da FARC, trazendo uma lista de “contatos políticos” estabelecidos na região e na Espanha que ofereceriam “apoio” e ajudariam a “coordenar o trabalho” da FARC.


O partido Unificação Democrática (UD) de Honduras está na lista. O partido ocupa apenas poucas cadeiras no Congresso, mas é o único partido político que defende o retorno de Zelaya. Sempre que há manifestações violentas e bloqueios nas estradas em favor de Zelaya, lá está o UD.


A carta da FARC diz que há 45 organizações do tipo. Inclusive, como talvez interesse a Calderón, o Partido do Trabalho do México e a Juventude Comunista do México.


Além da relação entre o UD e a FARC, Zelaya violou a lei hondurenha ao tentar mudar a constituição para poder concorrer à reeleição. Também incitou uma turba que invadiu um armazém da Força Aérea que guardava as urnas para seu referendo ilegal. Em 28 de junho, foi preso por ordem da Suprema Corte, deportado pelas forças armadas, e removido do cargo pelo Congresso. Até mesmo o partido dele, o Partido Liberal, defendeu chutá-lo para fora do cargo e do país, e a maioria da população apóia essas decisões.


Obama e Calderón, porém, não apoiam. Ambos querem a volta de Zelaya.


Há duas semanas o governo Obama piorou a situação em Honduras ao retirar os vistos de algumas de suas autoridades. Para não ficar para trás, Calderón estendeu o tapete vermelho na Cidade do México semana passada para Zelaya, numa importante demonstração de apoio a seu retorno ao poder. Mas deve-se conceder que o governo de Harper foi mais comedido em sua resposta aos acontecimentos de Tegucigalpa.


Dizem que um presidente mexicano que fique à direita da Casa Branca mexe com um tabu da política doméstica daquele país. Isso pode explicar por que Calderón, de centro-direita, decidiu preparar uma recepção oficial para Zelaya. Nesse assunto, ele quer ficar à esquerda de um presidente americano esquerdista.


Mas as coisas não são simples assim. Calderón vem fazendo uma “guerra” contra os cartéis de drogas no México que, de dezembro de 2006 para cá, já custou a vida de 1077 policiais. Agora ele e Obama terão de explicar seu apoio a uma facção política em Honduras que se alia ao crime organizado. De acordo com as provas coletadas pela inteligência colombiana que chegaram a mim indiretamente, é exatamente isso que eles estão fazendo.


Os hondurenhos não querem Zelaya em seu país porque ele é o líder de uma turba violenta e antidemocrática, além de ter tentado, exatamente como Chávez na Venezuela, enfraquecer as instituições do país. Chávez também foi o professor de Daniel Ortega, na Nicarágua, Rafael Correa, no Equador, e Evo Morales, na Bolívia. Essas democracias também foram seriamente comprometidas.


Mas mesmo que Obama e Calderón não se importem com a liberdade dos hondurenhos, eles não podem ignorar que o estabelecimento de um governo chavista em Honduras aumentaria o custo, em dinheiro e sangue, de sua guerra às drogas.


A conexão com as FARC poderia ajudar muito a explicar por que Chávez está fazendo tanta força para que Zelaya volte ao poder. Já está claramente verificado que o ditador venezuelano apoia ativamente a FARC na América do Sul. Os rebeldes têm um abrigo seguro em sua fronteira e no mês passado um ataque do exército colombiano a um acampamento da FARC apreendeu lançadores de foguetes anti-mísseis suecos que haviam sido vendidos à Venezuela. Chávez ainda não ofereceu uma explicação digna de como os terroristas colombianos puseram as mãos neles.


Um relatório de julho do U.S. General Accountability Office revelou que a Venezuela se tornou uma das principais rotas para a cocaína colombiana, 60% da qual é exportada pela FARC. O GAO também revelou membros do alto escalão do governo de Chávez e militares venezuelanos são cúmplices. “De acordo com autoridades americanas, a corrupção na Guarda Nacional Venezuelana representa a ameaça mais significativa, porque a Guarda se reporta diretamente ao presidente Chávez e controla os aeroportos, fronteiras e portos da Venezuela”, disse o GAO.


Os líderes da cúpula falarão hoje [ontem] sobre a guerra às drogas. Talvez Calderón e Obama nos digam por que estão defendendo um político hondurenho banido cujos defensores têm uma causa comum com traficantes terroristas. Todos os norte-americanos merecem uma explicação.



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