Alternativas políticas ao 'Socialismo do Século 21' não chegam a redutos governistas
Estadão Online
Por Patrícia Campos Mello
José Antonio Sánchez tem poucos dentes, trabalha como sapateiro semana sim, semana não, e vive em Petare, a maior e mais perigosa favela de Caracas - 1 milhão de habitantes. Em sua casa, a água chega de vez em quando, amarela. O posto de saúde que frequenta, com seus médicos cubanos, tem uma fila enorme e só abre até meio-dia. No mercadinho socialista de Hugo Chávez, o Mercal, falta frango, carne, margarina e papel higiênico. Apesar disso, Sánchez não pensa em votar na oposição em 26 de setembro. Não sabe quem a representa.
A Venezuela vive a maior recessão dos últimos anos. Sua inflação deve ficar em 35%, a mais alta do mundo. O desemprego está em 8,5%. Enquanto toda a América Latina cresce, o PIB da Venezuela vai encolher 4,4%, depois de ter recuado 3,3% no ano passado. A produção de petróleo, arrimo do país, deve cair 1%. O racionamento de energia deixa milhões de venezuelanos até 6 horas por dia sem luz.
Mesmo assim, a popularidade de Chávez está em 47%, segundo pesquisa de julho da Datanalisis. Está em queda, se comparada à de 2006, quando 71,5% dos venezuelanos o apoiavam. Mas ainda é maior que a presidente americano Barack Obama, que está com 44%, segundo Gallup desta semana.
Apesar de todas as más notícias que cercam o governante bolivariano, a oposição da Venezuela não engrena. A pouco mais de um mês das eleições legislativas, quando serão eleitos 165 deputados para a assembleia nacional, a oposição ainda luta para se articular. Nas previsões mais otimistas, conseguirá no máximo a metade dos assentos da assembleia. Os chavistas do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) devem manter a maioria.
A oposição venezuelana é fragmentada e carece de um projeto que vá além do "fora Chávez", dizem analistas. Em 2005, os oposicionistas boicotaram as eleições legislativas, em uma estratégia que deu a Chávez poder absoluto na assembleia para passar suas leis de concentração de poder. Só há quatro meses houve uma tentativa de coalizão. Formou-se a Mesa da Unidade Democrática, que agrega cerca de 30 agremiações contra Chávez.
A população está cada vez mais descontente por causa da falta de segurança e a inflação. Boa parte dos venezuelanos dizem sem travas que Chávez "anda muito radical" e gostariam de alternância de poder. Mas estes mesmos identificam a oposição com uma volta a um passado pré-chavista. "Há um problema de ver a oposição como restauração, uma volta ao que havia antes de Chávez, e as pessoas tampouco querem isso", diz José Albornoz, secretário-executivo do Pátria Para Todos, partido que tenta ser uma terceira via. De acordo com a empresa de pesquisas Hinterlaces, os "ni-ni" - nem Chávez, nem oposição - representam 48% do eleitorado da Venezuela. Entre eles, os que apoiam a ideia de "socialismo do século 21" são 27%, enquanto 21% são a favor da oposição.
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