sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Jornais de Caracas denunciam censura


Por Roberto Lameirinhas

Estadão Online

Na esteira das medidas adotadas por Hugo Chávez para restringir a atuação de emissoras de rádio e TV, jornais venezuelanos denunciaram ontem a prática de censura prévia aos meios impressos. Em protesto contra a decisão do Judiciário de proibir a publicação de fotos "violentas", o jornal El Nacional foi ontem às bancas com espaços em branco e tarjas com a palavra "censurado" na capa e na página destinada ao noticiário policial.

A proibição deu-se após o jornal de Caracas ter publicado, na sexta-feira, a foto de um necrotério com 12 cadáveres empilhados - com a qual denunciava a deterioração da situação da segurança pública no país. Na segunda-feira, outro jornal da capital, o Tal Cual, reproduziu a foto em desafio à proibição judicial.

"Publicamos a foto como uma forma de provocar um choque na população diante do quadro de violência crescente no país", justificou o diretor do Nacional, Miguel Henrique Otero.

"A grande questão é que a medida de censurar a divulgação de informações sobre a criminalidade não resolve o problema da segurança pública, mas impede que ele venha à tona em um momento delicado do chavismo, quando ele vê ameaçada sua maioria na Assembleia Nacional nas eleições de 26 de setembro", disse ao Estado, por telefone, Ricardo Alvarez, professor de ciências políticas da Universidade de Caracas.

Marcelino Bisbal, titular da cadeira de comunicação da Universidade Andrés Bello, ressalta que, apesar da ofensiva contra emissoras, nunca houve um ataque tão direto quanto esse. "É curioso verificar que a medida vigorara, inicialmente, por um mês. Coincidentemente, o período em que estaremos em campanha eleitoral", disse.

O combate à criminalidade é um dos pontos fracos do governo e visto pela oposição como um dos principais itens de política pública que podem tirar votos do governista Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV). Em 2009, o número de assassinatos em todo o país superou 16 mil - convertendo a Venezuela no país mais violento da América do Sul - e o número médio de mortes violentas em Caracas, a cada fim de semana, supera 50. O governo não apresenta balanços sobre a criminalidade há vários anos.

"Tudo isso é parte de um complô, de uma campanha internacional que toma espaços importante nas telas, nas cadeias internacionais de mídia, nos jornais da Europa, dos EUA e da América Latina. Estão desesperados e buscam sabotar a revolução com grosseria, a manipulação e a pornografia", disse Chávez ontem. "Há uma manipulação pornográfica e eleitoreira do tema da criminalidade."


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