segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O arrocho de Chávez


Estadão Online

Jornal Estadão

A publicação, pelo jornal El Nacional de Caracas, de uma foto de 12 cadáveres empilhados no necrotério da capital - para denunciar a omissão do governo de Hugo Chávez diante da escalada da violência criminal na Venezuela - resultou esta semana na imposição explícita da censura a toda a imprensa do país, depois limitada a dois jornais de Caracas. É o mais grave ato repressivo do gênero desde os tempos do ditador Marcos Pérez Jiménez, nos anos 1950. Com uma peculiaridade: a mordaça valerá de início por um mês. Isso porque haverá eleições parlamentares na Venezuela em 26 de setembro, e a questão da segurança aflige como nenhuma outra o eleitorado da nação vizinha.

Não é para menos. Sob Chávez, a criminalidade alcançou níveis atualmente sem paralelo na América do Sul. Embora o governo tenha cessado de divulgar estatísticas sobre o assunto - na fútil tentativa de ocultar da população o que ela sabe por experiência própria na sua vida cotidiana -, cálculos extraoficiais revelam que em 2009 o número de homicídios no país superou 16 mil, com 50 mil feridos. Em julho último, 465 pessoas (ou 15 a cada dia) foram assassinadas, apenas em Caracas. Estima-se que o arsenal em poder da bandidagem soma 6 milhões de armas. Na Venezuela, o crime compensa: 91% dos atos de violência armada permanecem impunes.

Na República Bolivariana, o regime controla de tal modo o Judiciário que pode contar com a instituição para dar um verniz de legitimidade aos seus movimentos liberticidas. Assim foi no caso do oposicionista El Nacional. (Ou no caso do Tal Cual, outro jornal que se opõe ao caudilho, que reproduziu a foto do necrotério repleto.) Tão logo Chávez investiu contra o matutino, acusando-o de ter divulgado uma imagem "pornográfica", numa "manipulação politiqueira do tema da violência", o Tribunal para a Proteção da Criança e do Adolescente vedou a publicação de textos e fotos relativos, entre outras coisas, a "incidentes sangrentos e grotescos, armas, mensagens de terror, atos de agressão física e batalhas".

A reação do El Nacional foi vigorosa. Sob a manchete Proíbem publicar imagens e notícias sobre a violência, o diário carimbou a palavra "censurado" nos espaços em branco reservados para duas fotos. Uma legenda resumia a tragédia venezuelana: Se aqui houvesse uma foto, vocês veriam um pai chorando por um filho que morreu. O proprietário e editor-chefe do jornal considerou a censura uma arbitrariedade que viola a Constituição. "Foi uma decisão política", disse ainda, aludindo à campanha eleitoral em curso no país e ao problema que mais afeta a popularidade de Chávez. "A decisão judicial peca por amplitude e imprecisão", comentou a organização de defesa da imprensa Repórteres sem Fronteiras.

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