quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

QUANDO O BRASIL COMEÇOU A SE FERRAR

Por Ipojuca Pontes

OpiniãoLivre.com


Vendo no jornal da TV Globo (“uma emissora a serviço do governo”) Lula dizer que as imagens do governador Zé Arruda arrastando a grana do propinoduto brasiliense “não falam por si”, nem provam coisa alguma, me veio à cabeça uma pergunta tardia, mas obrigatória: quando foi que o Brasil começou a se ferrar?

Logo me lembrei que o historiador inglês Paul Johnson, em seu livro “Tempos Modernos” (Instituto Liberal/Rio/1990), afirma que o fatídico século XX, dominado pela desgraça totalitária, começou no Brasil, quando um eclipse solar foi fotografado na cidade de Sobral, no Ceará, revelando o imprevisto desvio de movimento do planeta Mercúrio em exatos 43 segundos no transcorrer de todo século XIX.

O singular fenômeno do desvio do corpo celeste, detectado por possantes telescópios, abalava fundo a cosmologia de Newton (baseada nas linhas retas da geometria euclidiana e nas noções do tempo absoluto de Galileu), que tinha servido como pano de fundo para o Iluminismo europeu, a Revolução Industrial e a vasta expansão do conhecimento humano. Segundo Johnson, o desvio de meros 43 segundos flagrado a partir da foto do eclipse solar em Sobral, deu margem a criação de uma nova – e fragmentada – teoria do universo: a Teoria da Relatividade Restrita (e depois “Geral”), criada e consagrada por Albert Einstein.

Fiquei matutando durante tempo considerável se o tal desvio não estaria na raiz do nosso sinistro presente, mas logo me dei conta de que as observações teóricas do físico alemão em torno da relatividade do tempo e do espaço, tidas como superadas, me levariam à funesta equação de que “toda massa pode ser transformada em energia”, vale dizer, na Bomba Atômica – e então, adotando a postura de Mercúrio, desviei de rota.

Em seguida, pensei: talvez a resposta sobre como e quando o Brasil começou a entrar pelo cano demande esforço em outra direção. Então, em vez de queimar a mufa com a ciência relativista, por que não procurar resposta no Google, ou consultar o Nivaldo Cordeiro, que tem resposta para tudo, ou, quem sabe, examinar os velhos alfarrábios? Como a madrugada avançava célere, eliminei as duas hipóteses iniciais e parti para a terceira. Fui à biblioteca, e da estante de obras raras retirei o grosso volume de “Notícia do Brasil”, escrito em 1587 por Gabriel Soares de Sousa, um colono que durante 17 anos percorreu todo o país para revelar em prosa honesta o que éramos nos nossos primórdios.

No vasto levantamento que fez do Brasil, Gabriel Soares nos leva a acreditar que, de fato, seriamos o “país do futuro”. Sua visão do que tínhamos e éramos pode ser considerada mais do que positiva. Por exemplo: escrevendo ao primeiro editor do livro, o nobre Cristóvão de Moura, residente em Madrid, o autor não contém o entusiasmo com as “grandezas e estranhezas” que tomam conta do lugar, ressaltando que, nele, a “terra é quase toda muito fértil, mui sadia, fresca e levada de bons ares, e regada de frescas e frias águas”.

No que se refere às nossas riquezas naturais, ele diz que “A província é abastada de mantimentos de muita substância e menos trabalhosos que os de Espanha”. E especifica: “Dão-se nelas muitas carnes, assim naturais, como das de Portugal, e maravilhosos pescados; onde se dão também melhores algodões que em outra parte sabida, e muitos açucares tão bom como na ilha da Madeira”.

E prossegue Gabriel Soares no seu encantamento: “Tem muito pau de que se fazem as tintas. Em algumas partes dela se dá trigo, cevada, e vinho muito bom, e em todas todos os frutos e sementes de Espanha. E há que se descobrir os metais que nesta terra há; porque lhe não faltam ferro, aço, cobre, ouro. esmeraldas, cristal e muito salitre, e em cuja costa sai do mar todos os anos muito e bom âmbar; e de todas estas e outras podiam vir todos os anos a estes reinos em tanta abastança”;

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Um comentário:

Partido Alfa disse...

Já ouvi muito a repeito, inclusive que o Brasil é assim por que foi colonizado por um pais católico, em vez de um protestante. Bobagem. Nós somos o que temos e temos que nos resolver assim mesmo. A causa das coisas serem assim reside em nós mesmos. Já fizemos uma Revolução, industrial, com Getulio Vargas, mas houve um preço para isso, uma ditadura. Falta-nos fazer outra revolução, a Administrativa, mudar o Sistema. Vai ter um custo, com certeza. E não há que se ter medo de pagá-lo. A História sempre faz Justiça, como fez a Getulio.