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Tenho duas reclamações sobre o discurso de aceite do Prêmio Nobel de Obama; um factual, o outro teórico. O primeiro se refere à repetição da afirmação comum de que vivemos em um mundo de cada vez mais instabilidade e guerra civil. O presidente disse:
"O ressurgimento de conflitos étnicos e sectários; o crescimento dos movimentos de secessão, insurgências, e estados fracassados — todas essas coisas vêm cada vez mais encurralando civis em um caos interminável."
A verdade exige que se mude "cada vez mais" para "cada vez menos". ORelatório da Segurança Humana mostra o caso. Seus gráficos mostram que a guerra civil (guerra entre estados) — a que Obama está se referindo — se tornou cada vez menos comum ao longo das últimas décadas. Pode-se ver, também, que a guerra civil mata muito menos pessoas hoje em dia do que antigamente.
Minha segunda reclamação é sobre o fracasso de Obama em reconhecer que a paz é um valor que compete com outros. Seres humanos lidam uns com os outros não reconciliando todas as suas diferenças, mas tolerando-as. As nações evitam a guerra aceitando os pequenos perigos que as outras representam, em vez de criar perigos maiores na tentativa de atingir segurança total. Se os Estados Unidos tivessem sacrificado seu desejo de promover o anticomunismo e o livre comércio e conter o comunismo em 1950, como fizeram na Europa Oriental, poderiam ter evitado a Guerra da Coreia. Ao aceitar uma dose de risco das armas nucleares iranianas, evitamos uma guerra preventiva. Mantemos a paz no Sudão porque não fazemos cumprir em Darfur as normas humanitárias. Poderíamos derrubar o governo do Zimbábue, ou da Coreia do Norte, e salvar pessoas da doença e da fome. Mas preferimos a paz. O Paquistão enfraquece sua instável paz com a Índia por querer recuperar Caxemira. Israel faz algo semelhante com a Margem Ocidental.
Como quer que se julguem essas escolhas, é importante reconhecê-las como tais. Vencedores legítimos de prêmios da paz são pessoas que sacrificaram algo importante para evitar uma guerra, ou pelo menos defenderam que se sacrificasse.
Não é surpreendente que o presidente, dado seu emprego, celebre a moralidade da hegemonia militar americana e desconsidere argumentos de que ela não é uma fonte de paz. Era previsível que ele defenderia a ideia de que a paz no longo prazo frequentemente requer sacrificá-la no curto prazo, dado que os Estados Unidos estão lutando duas guerras em nome da estabilidade. O que me irritou foi ele não ter mencionado que a paz também requer sacrifício.
Se há uma mensagem que dá coesão ao seu discurso, é esta: todas as coisas boas andam juntas. Não precisamos escolher a paz às custas do ativismo militar americano, da democracia, da justiça ou do desenvolvimento econômico no exterior — todos esses servem o mesmo propósito. Obama basicamente definiu a paz como um mundo livre de pobreza e injustiça. Ele disse, por exemplo, que a paz entre estados não é durável sem o senso de justiça oferecido por uma ideologia de liberdade, porque um governo autocrático causa inquietação e violência. À parte de seu uso criativo da história, o que é notável aqui é sua recusa em reconhecer que manter a paz com autocracias é geralmente virtuoso, mas trágico.
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