O presidente Lula reage mal à afirmação de que ele é um político de sorte que se beneficiou de um longo período de bonança na economia mundial, ao contrário de seu antecessor, FHC, que teve que gerenciar cinco crises financeiras internacionais ao longo de seus dois mandatos.
A crise atual, a primeira que Lula precisa enfrentar, tem servido de termômetro sobre a capacidade do presidente e de sua equipe para lidar com adversidades de grande magnitude. E os indicadores não são animadores.
Antes convém destacar, que a equipe econômica, exceção feita ao presidente do Banco Central, é totalmente petista. O ministro do Planejamento é petista; o ministro da Fazenda é petista, e o presidente do IPEA, que subsidia os estudos que orientam o planejamento das políticas públicas do governo em matéria econômica, é petista.
O primeiro e mais grave erro do governo foi o diagnóstico da crise. Conforme já registrado em artigo aqui publicado anteriormente, tudo indica que o governo, incluindo o ex-tucano Henrique Meirelles, acreditou que o impacto da crise sobre a economia brasileira se faria sentir apenas como uma marolinha. Decorrência disso, o governo demorou a agir e agiu de forma inadequada quando percebeu que o problema era mais grave do que o previsto.
Todos se lembram das declarações do presidente Lula ordenando aos brasileiros que não parassem de consumir e revelando contrariedade com os prefeitos recém eleitos e governadores que, fazendo a leitura correta da crise, cortaram despesas e investimentos antevendo, já no final do ano passado, a queda de arrecadação decorrente do impacto da crise sobre nossa economia.
Ao mesmo tempo o presidente Lula ordenou a desoneração tributária do IPI e do IR, justamente impostos que a União compartilha com estados e municípios, deixando intactas as contribuições que irrigam sem distribuição para outras unidades federadas, os cofres do governo federal.
Resultado: o desespero bateu à porta dos prefeitos e governadores e o presidente Lula se vê obrigado a adotar medidas de socorro emergencial sob pena de ser responsabilizado pela crise no atendimento dos serviços públicos que decorrerá da secura dos cofres de prefeituras e governos estaduais. O socorro anunciado, que prevê o repasse de menos de 1/3 do valor cortado apenas, não será suficiente para salvar Lula das críticas das quais será alvo por parte de administradores locais e regionais indignados.
O temor à perda de popularidade assombra as noites do presidente. O lançamento do pacote habitacional revelou o mais impressionante conjunto de improvisos em curto espaço de tempo que se tem conhecimento nesse segundo mandato de Lula. Inicialmente anunciado para contemplar a construção de 200 mil moradias, o plano foi elevado para 500 mil e finalmente para um milhão de casas populares, cifra a que, tudo indica, esperava aprovação final dos marqueteiros do governo. O vistoso número, no entanto, não resiste ao contraste com a real capacidade pretérita do governo para transformar essa retórica em realidade.
A recente mudança de presidente do Banco do Brasil é outro lance político desastrado do governo. Alegando a resistência do demitido em obedecer à ordem de baixar os juros, Lula, pessoalmente, ordenou sua substituição. A forma como a troca se deu deixa transparecer o desespero de Lula em confrontar a realidade que contraria sua vontade. O resultado do voluntarismo presidencial, contra a lógica da boa técnica de gestão, foi a perda milionária do valor de mercado do banco estatal, em prejuízo de acionistas e contribuintes.
Mas a prova mais cabal do desnorteio governamental provém do IPEA (ver editorial do Estadão de hoje replicado aqui). Recentemente esse órgão, que realiza estudos e pesquisas para orientar o planejamento das políticas públicas federais, divulgou estudo comparando o tamanho do Estado brasileiro com o de uma lista de países. Segundo o IPEA nosso paquiderme patrimonialista é menor que o estado nos EUA, Espanha, Alemanha, França, Suécia, Argentina, Uruguai e Paraguai (http://www.ipea.gov.br/default.jsp). Por trás da pesquisa está a aparente intenção de justificar o inchaço e a politização da máquina pública patrocinado pelo governo Lula.
Em primeiro lugar, convém frisar que é justamente a concessão de aumentos reais de salários ao funcionalismo público e a contratação de milhares de novos servidores nos últimos anos a principal vulnerabilidade a ameaçar a capacidade de resposta do governo à crise global em curso. O aumento do custeio da máquina gerou despesas com crescimento inercial incontornável e, com isso, limitou a capacidade de investimento do governo, forçando-o a queimar reservas e avançar sobre fundos públicos para financiar as políticas de resposta à crise, medidas essas cujos custos se refletirão no bolso do contribuinte nos próximos anos.
Além disso, pergunta-se: se o estado brasileiro é menor que o estado da lista de países antes referidos e mesmo assim consome 40% da riqueza produzida anualmente pelos brasileiros, o que interessa constatar como conclusão do estudo do IPEA não é a comparação entre o tamanho dos estados citados pela pesquisa, mas sim o altíssimo custo de um estado ineficiente na prestação dos serviços essenciais à população. Ou seja, o governo Lula, sob orientação dos estudos do IPEA, está empatando o dinheiro do contribuinte no aumento de um estado ineficiente, ao invés de direcionar esses recursos para investimentos produtivos que poderiam abreviar e baratear a saída da crise.
Site: DiegoCasagrande.com.br
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