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O governo socialista venezuelano anunciou de forma delirante há algumas semanas que os EUA teriam desenvolvido uma arma secreta capaz de destruir países inteiros por meio do uso de ondas de choque sísmicas. De acordo com artigo disponível num site do governo a arma teria sido testada com sucesso contra o Haiti, causando o terremoto que se abateu recentemente sobre o país.
Em sua obsessão com ondas de choque imaginárias, o governo venezuelano ignora ondas de choque reais, como as que foram causadas pelo colapso do socialismo no resto do mundo. O economista John Kay, num artigo publicado recentemente no Financial Times, desenvolve uma intrigante tese: a de que o colapso do socialismo teria dado início a um processo de transformações históricas cujos efeitos somente agora, quase vinte anos após a queda do muro de Berlim, são mais claramente reconhecidos.
De acordo com Kay, o desastre socialista teria tido efeitos significativos sobre a forma de pensar da maior parte da população dos países avançados, afetando os quadros de referência ideológicos e consequentemente a política partidária nestes países. Os efeitos mais interessantes destas ondas de choque teriam ocorrido nos EUA e na União Europeia. Por exemplo, para permanecer no poder o Partido Trabalhista inglês teve que reciclar seu discurso e aceitar o capitalismo e os mercados como elementos necessários para o crescimento econômico. Os partidos comunistas, uma vez muito fortes na Europa continental, tornaram-se praticamente irrelevantes. E até mesmo os partidos socialistas encontram-se continuamente em dificuldades, frequentemente sujeitos à escolha entre a negação de seus princípios doutrinários ou a irrelevância política.
Kay argumenta que as mudanças no pensamento político europeu estão entre os principais fatores responsáveis pelo fortalecimento da União Europeia. Ele sugere que a desideologização do discurso político europeu teria tornado irrelevante a antiga disputa entre socialistas e seus opositores, abrindo espaço na Europa para uma salutar competição política baseada na meritocracia e em questões práticas de cunho regional. Ou seja, o colapso do socialismo teria removido os obstáculos ao diálogo construtivo na política europeia.
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