terça-feira, 2 de novembro de 2010

O que esperar do futuro governo Dilma?


Por Leandro Roque




Sem que ela tenha nomeado sua equipe de governo, já é possível saber de antemão como será o governo Dilma, sem correr qualquer risco de errar.

Daqui a quatro anos:

1) Suas liberdades civis estarão menores.

2) A quantidade de impostos que você pagará será maior.

3) A economia estará ainda mais regulada.

4) O estado estará ainda mais envolvido em empreendimentos.

5) Quem estiver no setor público estará rindo à toa.

6) Quem for empreendedor e tiver contratos com o governo ou tiver funcionários públicos como o grosso de sua clientela também estará ótimo.

7) Quem for empreendedor autônomo, do tipo que não recebe favores do governo, mas que já está em um mercado maduro, seguirá escorchado e tendo de sustentar todo o trem da alegria acima.

8) E, finalmente, quem for empregado do setor privado (exceto bancos) ficará exclusivamente com o ônus de tudo. Não estará morrendo de fome, mas dificilmente sairá do lugar. Por quê?

Salários reais estagnados por 8 anos

Essa tabela de Excel fornecida pelo IBGE mostra que o rendimento médio real dos trabalhadores do setor privado com carteira assinada está atualmente em um nível menor que o de agosto de 2002!

Você realmente deve clicar na tabela e ver (na coluna da esquerda, desde lá de cima da planilha) que o rendimento real dos trabalhadores do setor privado com carteira assinada caiu continuamente de 2002 até 2010, e apenas em setembro agora é que o valor se igualou ao que era em julho de 2002, porém ainda estando menor que o valor de agosto de 2002.

Isso explica o aumento do número de postos de trabalho com carteira assinada. Os salários reais estão estagnados há oito anos, o que de fato estimula a demanda por mão de obra e, consequentemente, o emprego.

Quando se ouve falar que o salário real subiu, está-se levando em conta os salários de toda a população, inclusive funcionários públicos. Porém, se olharmos exclusivamente os assalariados do setor privado com carteira assinada, a situação fica desesperadora: existe emprego (e é disso que o governo se gaba), mas não existe remuneração — essa está, na melhor das hipóteses, estagnada desde 2002.

Esse fenômeno de oferta de emprego relativamente alta e salários constantemente baixos foi explicado aqui, e mais do que nunca permanece válido. Enquanto o governo mantiver seus gastos elevados, seus déficits nominais, sua alta carga tributária e seus inúmeros encargos sociais e trabalhistas, ele estará impedindo a acumulação de capital no setor privado. Consequentemente, ao impedir que haja uma maior quantidade de bens de capital à disposição de trabalhadores, o governo estará tolhendo o aumento da produtividade do setor privado, o que por sua vez impossibilitará substanciais aumentos salariais.

Ao contrário do que ativistas políticos pensam, a prosperidade não pode ser obtida por meio de discursos demagógicos e de ataques à imprensa. Um alto padrão de vida só pode ser obtido por meio de um aumento da produção. Apenas quando há uma abundância de bens e serviços — cuja grande oferta faz com que seus preços sejam baixos —, é que o padrão de vida será maior.

E ao contrário do que economistas acadêmicos pensam, um país não enriquece imprimindo dinheiro e derrubando sua taxa básica de juros, mas sim acumulando capital e utilizando-o para criar a abundância de bens e serviços acima citada.

A política fiscal do governo — de gastos crescentes, déficits constantes, alta carga tributária e inúmeros encargos sociais e trabalhistas — simplesmente impediu qualquer progresso no valor real dos trabalhadores do setor privado. E isso de acordo com os dados do próprio IBGE.

Se Dilma não estiver disposta a desatar esse nó, apenas um surto milagroso de produtividade poderá fazer com que os salários do setor privado cresçam sustentavelmente em termos reais. (Curiosamente, nesse campo, nenhum progressista se dispõe a imitar a Escandinávia, com sua economia privada altamente desregulamentada.)

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