Por Reinaldo Azevedo
Blog do Reinaldo Azevedo
"Desastre!”
Essa seria uma boa palavra para definir o desempenho do Partido Democrata na disputa pela Câmara nos EUA. Até as 6h da manhã de hoje (hora de Brasília), o partido de Barack Obama havia perdido nada menos de 59 cadeiras, elegendo 180 representantes apenas. As 59 haviam passado para os republicanos, que perfaziam 234 — e eles precisavam de apenas 39 a mais para obter o controle da Casa. Seguiam indefinidas 21.
O desastre só não foi total porque os democratas conseguiram manter a maioria no Senado. Até o início da manhã de hoje, já haviam perdido seis cadeiras, mas conseguiram assegurar pelo menos 51 das 100. Podem chegar, no máximo, a 53. As seis passaram para os republicanos, que ficaram com 46, e três seguiam indefinidas. O consolo para Barack Obama é que seu líder no Senado, Harry Reid, conseguiu vencer em Nevada a republicana Sharron Angle, do Tea Party, por 50,2% a 44,6%. Os democratas lograram sucesso ainda na Califórnia, Delaware, Connecticut e Virgínia Ocidental, estados que consideravam temerários.
Dois líderes bastante salientes do Tea Party se elegeram, no entanto, no Kentucky e na Flórida: respectivamente, Paul Rand e Marco Rubio — nesse caso, a vitória republicana foi humilhante: 48,8% a 20,2% — os democratas perderam para os independentes, que chegaram a 29,7%. Seguiam indefinidos o Alasca — os independentes estavam na frente, com 70% dos votos apurados —, Washington, com ligeira vantagem democrata (62% dos apurados) e Colorado, com discreta dianteira republicana (73% apurados). A maioria no Senado, pois, pode ser de um só voto — três no máximo.
Escrevi na noite de ontem a respeito das eleições americanas. Também expliquei por que elas podem ser instrutivas para as oposições no Brasil. Segue o post das 19h51.
*
Oposicionistas no Brasil podem aprender com o republicanos nos EUA ou repetir os próprios erros. Ou: fazer oposição é uma missão constitucional!
Os dias andam muito animados no Brasil, e quase não há tempo para falar sobre o que vai mundo afora. Os EUA estão realizando eleições hoje. Disputam-se as 435 cadeiras da Câmara, 37 das 100 do Senado e 37 dos 50 governos de estado. Começo com um gracejo: quem entende de eleições americanas é o meu amigo Caio Blinder (bem mais progressista do que eu — mas quase todo mundo é…); eu entendo é de oposição desde o regime militar, hehe. Sempre fui oposição!
Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos há dois anos. Antes que a maioria dos americanos tivesse decidido votar nele, o mundo já o tinha elegido. Reclamei ontem de um repórter do Jornal da Globo que afirmou que a eleição de Dilma “já é histórica” no Brasil, “a primeira mulher”… À época, critiquei a imprensa brasileira e mundial por causa da também chamada “eleição histórica” de Obama, “o primeiro negro” etc e tal. Ninguém é histórico antes da história. A história que se faz com antecedência costuma ser pura mistificação.
É grande a possibilidade de que Obama perca hoje a maioria na Câmara. No Senado, o risco é menor, mas existe. Os republicanos, quem diria?, estão mais vivos do que nunca. O sistema eleitoral americano, que deu uma vitória acachapante para Obama no Colégio eleitoral — 365 votos a 173 — escondia uma verdade importante: Obama obteve 52% dos votos, e John McCain, o republicado, 47%. Como venceu na maioria dos estados, especialmente nos mais populosos, os democratas arrebatavam todos os delegados. O massacre do colégio estava longe de representar um massacre de votos. Embora a imprensa liberal americana — e a influenciada pela esquerda mundo afora — insistisse em declarar a morte dos republicanos, a verdade é que eles estavam vivíssimos.
Por vivos, decidiram fazer valer aqueles 47% — e é claro que estou batendo na cangalha para ver se os tucanos entendem: os tucanos que obtiveram 44% dos votos no Brasil! Obama tomou posse e tinha uma gigantesca tarefa pela frente. Se alguém podia falar em “herança maldita”, esse alguém era ele. Mas, para sorte dos americanos, essa conversa por lá pega mal. O país tem a sorte de ter uma cultura política que considera que devem se apresentar para governar aqueles que julgar ter uma resposta eficiente a dar aos problemas. Ninguém precisa de governo para reclamar das dificuldades e para jogar a culpa nos ombros dos adversários.
Obama tem um forte lado terceiro-mundista no comportamento político. Sua retórica traz laivos de messianismo às vezes; ele também gosta, como fez hoje durante todo o dia em entrevistas a rádios, de separar os políticos entre os que fazem a América “avançar” ou “recuar”, essas coisas… Mas teve de ser comedido na demonização do passado. Os americanos o haviam escolhido para governar em lugar dos republicados, não para reclamar dos antecessores.
Dadas as dificuldades, ele até foi bem-sucedido nesses dois anos. Conseguiu aprovar seu plano para a Saúde; iniciou a retirada das tropas do Iraque, a economia se recupera com mais dificuldade do que se esperava, mas o país saiu da lama. E, bem, Obama é Obama, não é? Conta com a simpatia da esmagadora maioria da imprensa americana… Ocorre que…
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"Desastre!”
Essa seria uma boa palavra para definir o desempenho do Partido Democrata na disputa pela Câmara nos EUA. Até as 6h da manhã de hoje (hora de Brasília), o partido de Barack Obama havia perdido nada menos de 59 cadeiras, elegendo 180 representantes apenas. As 59 haviam passado para os republicanos, que perfaziam 234 — e eles precisavam de apenas 39 a mais para obter o controle da Casa. Seguiam indefinidas 21.
O desastre só não foi total porque os democratas conseguiram manter a maioria no Senado. Até o início da manhã de hoje, já haviam perdido seis cadeiras, mas conseguiram assegurar pelo menos 51 das 100. Podem chegar, no máximo, a 53. As seis passaram para os republicanos, que ficaram com 46, e três seguiam indefinidas. O consolo para Barack Obama é que seu líder no Senado, Harry Reid, conseguiu vencer em Nevada a republicana Sharron Angle, do Tea Party, por 50,2% a 44,6%. Os democratas lograram sucesso ainda na Califórnia, Delaware, Connecticut e Virgínia Ocidental, estados que consideravam temerários.
Dois líderes bastante salientes do Tea Party se elegeram, no entanto, no Kentucky e na Flórida: respectivamente, Paul Rand e Marco Rubio — nesse caso, a vitória republicana foi humilhante: 48,8% a 20,2% — os democratas perderam para os independentes, que chegaram a 29,7%. Seguiam indefinidos o Alasca — os independentes estavam na frente, com 70% dos votos apurados —, Washington, com ligeira vantagem democrata (62% dos apurados) e Colorado, com discreta dianteira republicana (73% apurados). A maioria no Senado, pois, pode ser de um só voto — três no máximo.
Escrevi na noite de ontem a respeito das eleições americanas. Também expliquei por que elas podem ser instrutivas para as oposições no Brasil. Segue o post das 19h51.
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Oposicionistas no Brasil podem aprender com o republicanos nos EUA ou repetir os próprios erros. Ou: fazer oposição é uma missão constitucional!
Os dias andam muito animados no Brasil, e quase não há tempo para falar sobre o que vai mundo afora. Os EUA estão realizando eleições hoje. Disputam-se as 435 cadeiras da Câmara, 37 das 100 do Senado e 37 dos 50 governos de estado. Começo com um gracejo: quem entende de eleições americanas é o meu amigo Caio Blinder (bem mais progressista do que eu — mas quase todo mundo é…); eu entendo é de oposição desde o regime militar, hehe. Sempre fui oposição!
Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos há dois anos. Antes que a maioria dos americanos tivesse decidido votar nele, o mundo já o tinha elegido. Reclamei ontem de um repórter do Jornal da Globo que afirmou que a eleição de Dilma “já é histórica” no Brasil, “a primeira mulher”… À época, critiquei a imprensa brasileira e mundial por causa da também chamada “eleição histórica” de Obama, “o primeiro negro” etc e tal. Ninguém é histórico antes da história. A história que se faz com antecedência costuma ser pura mistificação.
É grande a possibilidade de que Obama perca hoje a maioria na Câmara. No Senado, o risco é menor, mas existe. Os republicanos, quem diria?, estão mais vivos do que nunca. O sistema eleitoral americano, que deu uma vitória acachapante para Obama no Colégio eleitoral — 365 votos a 173 — escondia uma verdade importante: Obama obteve 52% dos votos, e John McCain, o republicado, 47%. Como venceu na maioria dos estados, especialmente nos mais populosos, os democratas arrebatavam todos os delegados. O massacre do colégio estava longe de representar um massacre de votos. Embora a imprensa liberal americana — e a influenciada pela esquerda mundo afora — insistisse em declarar a morte dos republicanos, a verdade é que eles estavam vivíssimos.
Por vivos, decidiram fazer valer aqueles 47% — e é claro que estou batendo na cangalha para ver se os tucanos entendem: os tucanos que obtiveram 44% dos votos no Brasil! Obama tomou posse e tinha uma gigantesca tarefa pela frente. Se alguém podia falar em “herança maldita”, esse alguém era ele. Mas, para sorte dos americanos, essa conversa por lá pega mal. O país tem a sorte de ter uma cultura política que considera que devem se apresentar para governar aqueles que julgar ter uma resposta eficiente a dar aos problemas. Ninguém precisa de governo para reclamar das dificuldades e para jogar a culpa nos ombros dos adversários.
Obama tem um forte lado terceiro-mundista no comportamento político. Sua retórica traz laivos de messianismo às vezes; ele também gosta, como fez hoje durante todo o dia em entrevistas a rádios, de separar os políticos entre os que fazem a América “avançar” ou “recuar”, essas coisas… Mas teve de ser comedido na demonização do passado. Os americanos o haviam escolhido para governar em lugar dos republicados, não para reclamar dos antecessores.
Dadas as dificuldades, ele até foi bem-sucedido nesses dois anos. Conseguiu aprovar seu plano para a Saúde; iniciou a retirada das tropas do Iraque, a economia se recupera com mais dificuldade do que se esperava, mas o país saiu da lama. E, bem, Obama é Obama, não é? Conta com a simpatia da esmagadora maioria da imprensa americana… Ocorre que…
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