Por Veja
Veja.com
Os investidores passaram grande parte do ano passado discutindo quais países europeus sucumbiriam à crise da dívida soberana iniciada na Grécia em 2009. Com o arrefecimento (para alguns apenas momentâneo) das turbulências na Europa, as apostas de uma parcela do mercado dirigiram-se a outro continente: a pujante América do Sul. A afirmação soaria estranha não fosse o fato de essa mesma região abarcar um país que já foi dos mais prósperos e que hoje encontra-se arrasado pelas estripulias de um ditador. A nação, novo alvo de desconfianças, é a Venezuela de Hugo Chávez.
Um relatório da consultoria americana CMA Vision, divulgado em janeiro, mostra que, no último trimestre de 2010, a probabilidade de a Venezuela não cumprir o pagamento de sua dívida externa em 2015 – medida pelo preço dos chamados ‘credit default swaps’, um tipo de seguro contra moratória – estava em 51,4%, perdendo apenas para a Grécia. Na última sexta-feira, o país já tinha alcançado a primeira posição no ranking dos ‘caloteiros’ mais prováveis.
A consultoria inglesa Capital Economics é ainda mais pessimista. Na semana retrasada, seus analistas divulgaram um alerta a seus clientes de que é cada vez maior o risco de o governo venezuelano não pagar a dívida externa de 5 bilhões de dólares que vence em 2012.
Diante desses avisos, a pergunta inevitável é: como Chávez conseguiu fazer com que os investidores passassem a temer a insolvência de um país que é o oitavo produtor mundial de petróleo?
Embora os preços do petróleo tenham atingido recentemente os elevados patamares do período anterior à crise de 2008-2009, a receita proveniente das exportações venezuelanas só diminui. O sucateamento da estatal petroleira PDVSA é a principal causa da diminuição na produção, que passou de 3,5 milhões de barris por dia em 1998, quando Chávez assumiu, para 2,3 milhões em 2010, de acordo com estimativas da Economist Inteligence Unit (EIU). O governo, que manipula os dados oficiais, insiste em dizer que produz 3,1 milhões de barris por dia.
Além de ter de administrar uma produção em queda, Chávez precisa reservar muitos barris para outro propósito. Diante de contas públicas esfaceladas, o presidente venezuelano recorreu em 2008 a um empréstimo de 12 bilhões de dólares concedido pela China. O pagamento é feito justamente em petróleo. A Capital Economics estima que esse acordo tenha reduzido as receitas anuais da PDVSA em 20%, já que limita a quantidade de barris que a estatal pode vender no mercado.
Os dois fatores, combinados com uma política cambial esdrúxula e a hostilidade de Chávez ao setor privado, provocaram uma seca de dólares no país, justamente no momento em que a América Latina enfrenta uma inundação de capital estrangeiro. Diante do problema, o governo venezuelano optou pela saída menos inteligente: endividar-se cada vez mais. De acordo com estimativas da EIU, a dívida pública do país saltou de 14% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008 para 30% em 2010. “O governo começou a emitir títulos com muito mais frequência porque não há quantidade suficiente de dólares no país”, afirma o analista Federico Barriga, da EIU.
Uma das medidas tomadas por Chávez para ‘suavizar’ o impacto da fuga de capital foi a redução da oferta de dólares ao setor privado. A solução saiu pior que encomenda. Houve retração das importações, explosão da inflação, estagnação econômica e, conseqüentemente, queda na popularidade do presidente. Há risco de a situação, já insustentável, piorar um pouco mais. É que, com a aproximação das eleições presidenciais em 2012, Chávez pode expandir os gastos públicos, aumentando o descontrole das contas governamentais.
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Os investidores passaram grande parte do ano passado discutindo quais países europeus sucumbiriam à crise da dívida soberana iniciada na Grécia em 2009. Com o arrefecimento (para alguns apenas momentâneo) das turbulências na Europa, as apostas de uma parcela do mercado dirigiram-se a outro continente: a pujante América do Sul. A afirmação soaria estranha não fosse o fato de essa mesma região abarcar um país que já foi dos mais prósperos e que hoje encontra-se arrasado pelas estripulias de um ditador. A nação, novo alvo de desconfianças, é a Venezuela de Hugo Chávez.
Um relatório da consultoria americana CMA Vision, divulgado em janeiro, mostra que, no último trimestre de 2010, a probabilidade de a Venezuela não cumprir o pagamento de sua dívida externa em 2015 – medida pelo preço dos chamados ‘credit default swaps’, um tipo de seguro contra moratória – estava em 51,4%, perdendo apenas para a Grécia. Na última sexta-feira, o país já tinha alcançado a primeira posição no ranking dos ‘caloteiros’ mais prováveis.
A consultoria inglesa Capital Economics é ainda mais pessimista. Na semana retrasada, seus analistas divulgaram um alerta a seus clientes de que é cada vez maior o risco de o governo venezuelano não pagar a dívida externa de 5 bilhões de dólares que vence em 2012.
Diante desses avisos, a pergunta inevitável é: como Chávez conseguiu fazer com que os investidores passassem a temer a insolvência de um país que é o oitavo produtor mundial de petróleo?
Embora os preços do petróleo tenham atingido recentemente os elevados patamares do período anterior à crise de 2008-2009, a receita proveniente das exportações venezuelanas só diminui. O sucateamento da estatal petroleira PDVSA é a principal causa da diminuição na produção, que passou de 3,5 milhões de barris por dia em 1998, quando Chávez assumiu, para 2,3 milhões em 2010, de acordo com estimativas da Economist Inteligence Unit (EIU). O governo, que manipula os dados oficiais, insiste em dizer que produz 3,1 milhões de barris por dia.
Além de ter de administrar uma produção em queda, Chávez precisa reservar muitos barris para outro propósito. Diante de contas públicas esfaceladas, o presidente venezuelano recorreu em 2008 a um empréstimo de 12 bilhões de dólares concedido pela China. O pagamento é feito justamente em petróleo. A Capital Economics estima que esse acordo tenha reduzido as receitas anuais da PDVSA em 20%, já que limita a quantidade de barris que a estatal pode vender no mercado.
Os dois fatores, combinados com uma política cambial esdrúxula e a hostilidade de Chávez ao setor privado, provocaram uma seca de dólares no país, justamente no momento em que a América Latina enfrenta uma inundação de capital estrangeiro. Diante do problema, o governo venezuelano optou pela saída menos inteligente: endividar-se cada vez mais. De acordo com estimativas da EIU, a dívida pública do país saltou de 14% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008 para 30% em 2010. “O governo começou a emitir títulos com muito mais frequência porque não há quantidade suficiente de dólares no país”, afirma o analista Federico Barriga, da EIU.
Uma das medidas tomadas por Chávez para ‘suavizar’ o impacto da fuga de capital foi a redução da oferta de dólares ao setor privado. A solução saiu pior que encomenda. Houve retração das importações, explosão da inflação, estagnação econômica e, conseqüentemente, queda na popularidade do presidente. Há risco de a situação, já insustentável, piorar um pouco mais. É que, com a aproximação das eleições presidenciais em 2012, Chávez pode expandir os gastos públicos, aumentando o descontrole das contas governamentais.
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