Por Thiago Bezerra Gomes
Mises Brasil
É possível que o leitor já tenha ouvido algum economista falar da importância da propriedade privada para o bom funcionamento da economia. Ludwig von Mises, um dos maiores economistas da História, demonstrou que sem a propriedade é impossível o cálculo econômico racional.
Os empreendedores estão atentos à demanda dos consumidores. Eles atuam tentando antecipar os preços futuros dos bens e, assim, usam os fatores de produção nesse sentido. Aqueles que obtiverem sucesso lucram e aumentam a eficiência do mercado. Os outros terão prejuízo e serão eliminados, deixando espaço para empreendedores mais eficientes.
Como todas as pessoas possuem meios e fins, esses empreendedores atuam para ajustá-los. Uma pessoa X tem o meio Mx e o fim Fx. Outra Y tem o meio My e o fim Fy. O meio Mx de X faz com que o fim Fy de Y seja alcançado, e vice-versa. Se X e Y souberem da existência um do outro e possuírem informações sobre seus meios, podem intercambiar. A importância do empreendedor é que geralmente ele coordena esses meios e fins.
Agora imagine uma sociedade sem propriedade. Automaticamente, o empreendedor não tem mais como calcular nada segundo o desejo dos consumidores, pois é proibido para ele ter legalmente os fatores de produção. O governo é o dono dos fatores; contudo, ele não possui as características dos empreendedores. "Mas e se o governo também tentar antecipar os preços?" Como Friedrich von Hayek demonstrou, o conhecimento é disperso na sociedade, e há uma categoria dele (do conhecimento) que é não-articulável, ou seja, não pode ser posta em um tipo de "manual". Então, é impossível para o governo antecipar os preços.
O leitor pode imaginar que há características dos mercados que são localizadas. Como o governo pode saber cada detalhe sobre cada meio e fim de todas as pessoas? E, mesmo que soubesse, como pode, no tempo necessário, dar todas as ordens? Sem propriedade privada, a economia não tem como funcionar.
Entretanto, os bolcheviques, ala do Partido Social-Democrata da Rússia do começo do século XX, discordavam totalmente disso. Para eles, seguindo o pensamento de Karl Marx, a propriedade era a origem de toda a exploração humana. Em outubro de 1917, os bolcheviques deram um golpe de estado no Governo Provisório que chegou via revolução em fevereiro (março do nosso calendário). O governo russo antes disso sempre havia sido fortemente intervencionista; o patrimonialismo no país era mais forte e evidente que o de qualquer outra sociedade européia. O monarca não apenas governava, como também era dono de todos os recursos.
Contudo, com o passar do tempo, esse poder foi se afrouxando e a monarquia passou a ceder espaço para o surgimento de um grupo de industriais. Além disso, permitia relativa liberdade aos camponeses e latifundiários. Com a Revolução de 1905 e a introdução do constitucionalismo, diversas leis foram aprovadas regulando a vida e a economia do Império. Mas o movimento socialista, dividido entre socialistas-revolucionários, mencheviques e bolcheviques, foi crescendo até que, em 1917, conseguiram cooptar vários militares e fizeram com que o czar Nicolau II abdicasse do trono.
Na realidade, diferente do que diz a historiografia marxista, até alguns setores conservadores pressionaram Nicolau, que renunciou porque temia que sua permanência no poder fizesse com que a Rússia saísse da Primeira Guerra. Contudo, tais detalhes sobre esses acontecimentos não nos interessam, e sim saber que, durante o czarismo, o governo instituído em 1905 e o em 1917 eram todos intervencionistas, com os dois últimos contando com a participação de socialistas.
Tal excesso de intervenção, misturado com o patrimonialismo russo, acarretou a fragilidade da propriedade privada no país. Muitos pequenos camponeses, em comunas ou não, não tinham respeito pela propriedade dos mais ricos. Inclusive, quando tiveram oportunidade, saquearam e roubaram.
Na realidade, pouco se tinha da noção de propriedade como tinham outros países com legislação mais avançada, como Alemanha e Inglaterra. Os bolcheviques incentivaram uma guerra civil, além de enviarem diretamente homens para aterrorizar o campo. O resultado foi uma terra sem lei, onde roubos não eram apenas tolerados, mas incentivados.
Com o tempo, os camponeses mais pobres sentiram a mão violenta do socialismo: o governo bolchevique, que já era pouco popular, estava enfrentando descontentamento social nas cidades, onde a fome aumentava a cada dia. Um bom governo instituiria um sistema legal com proteção para a propriedade, para aumentar a produção. Porém, obviamente, os socialistas não fizeram isso. Pelo contrário, estabeleceram que os camponeses só podiam ficar com uma parte da produção para consumo próprio e com outra para continuar plantando. Todo o excesso seria recolhido à força. Assim, a violência no campo não encontrou descanso.
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É possível que o leitor já tenha ouvido algum economista falar da importância da propriedade privada para o bom funcionamento da economia. Ludwig von Mises, um dos maiores economistas da História, demonstrou que sem a propriedade é impossível o cálculo econômico racional.
Os empreendedores estão atentos à demanda dos consumidores. Eles atuam tentando antecipar os preços futuros dos bens e, assim, usam os fatores de produção nesse sentido. Aqueles que obtiverem sucesso lucram e aumentam a eficiência do mercado. Os outros terão prejuízo e serão eliminados, deixando espaço para empreendedores mais eficientes.
Como todas as pessoas possuem meios e fins, esses empreendedores atuam para ajustá-los. Uma pessoa X tem o meio Mx e o fim Fx. Outra Y tem o meio My e o fim Fy. O meio Mx de X faz com que o fim Fy de Y seja alcançado, e vice-versa. Se X e Y souberem da existência um do outro e possuírem informações sobre seus meios, podem intercambiar. A importância do empreendedor é que geralmente ele coordena esses meios e fins.
Agora imagine uma sociedade sem propriedade. Automaticamente, o empreendedor não tem mais como calcular nada segundo o desejo dos consumidores, pois é proibido para ele ter legalmente os fatores de produção. O governo é o dono dos fatores; contudo, ele não possui as características dos empreendedores. "Mas e se o governo também tentar antecipar os preços?" Como Friedrich von Hayek demonstrou, o conhecimento é disperso na sociedade, e há uma categoria dele (do conhecimento) que é não-articulável, ou seja, não pode ser posta em um tipo de "manual". Então, é impossível para o governo antecipar os preços.
O leitor pode imaginar que há características dos mercados que são localizadas. Como o governo pode saber cada detalhe sobre cada meio e fim de todas as pessoas? E, mesmo que soubesse, como pode, no tempo necessário, dar todas as ordens? Sem propriedade privada, a economia não tem como funcionar.
Entretanto, os bolcheviques, ala do Partido Social-Democrata da Rússia do começo do século XX, discordavam totalmente disso. Para eles, seguindo o pensamento de Karl Marx, a propriedade era a origem de toda a exploração humana. Em outubro de 1917, os bolcheviques deram um golpe de estado no Governo Provisório que chegou via revolução em fevereiro (março do nosso calendário). O governo russo antes disso sempre havia sido fortemente intervencionista; o patrimonialismo no país era mais forte e evidente que o de qualquer outra sociedade européia. O monarca não apenas governava, como também era dono de todos os recursos.
Contudo, com o passar do tempo, esse poder foi se afrouxando e a monarquia passou a ceder espaço para o surgimento de um grupo de industriais. Além disso, permitia relativa liberdade aos camponeses e latifundiários. Com a Revolução de 1905 e a introdução do constitucionalismo, diversas leis foram aprovadas regulando a vida e a economia do Império. Mas o movimento socialista, dividido entre socialistas-revolucionários, mencheviques e bolcheviques, foi crescendo até que, em 1917, conseguiram cooptar vários militares e fizeram com que o czar Nicolau II abdicasse do trono.
Na realidade, diferente do que diz a historiografia marxista, até alguns setores conservadores pressionaram Nicolau, que renunciou porque temia que sua permanência no poder fizesse com que a Rússia saísse da Primeira Guerra. Contudo, tais detalhes sobre esses acontecimentos não nos interessam, e sim saber que, durante o czarismo, o governo instituído em 1905 e o em 1917 eram todos intervencionistas, com os dois últimos contando com a participação de socialistas.
Tal excesso de intervenção, misturado com o patrimonialismo russo, acarretou a fragilidade da propriedade privada no país. Muitos pequenos camponeses, em comunas ou não, não tinham respeito pela propriedade dos mais ricos. Inclusive, quando tiveram oportunidade, saquearam e roubaram.
Na realidade, pouco se tinha da noção de propriedade como tinham outros países com legislação mais avançada, como Alemanha e Inglaterra. Os bolcheviques incentivaram uma guerra civil, além de enviarem diretamente homens para aterrorizar o campo. O resultado foi uma terra sem lei, onde roubos não eram apenas tolerados, mas incentivados.
Com o tempo, os camponeses mais pobres sentiram a mão violenta do socialismo: o governo bolchevique, que já era pouco popular, estava enfrentando descontentamento social nas cidades, onde a fome aumentava a cada dia. Um bom governo instituiria um sistema legal com proteção para a propriedade, para aumentar a produção. Porém, obviamente, os socialistas não fizeram isso. Pelo contrário, estabeleceram que os camponeses só podiam ficar com uma parte da produção para consumo próprio e com outra para continuar plantando. Todo o excesso seria recolhido à força. Assim, a violência no campo não encontrou descanso.
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