Roger Scruton
Mídia Sem Máscara
Os conservadores reconhecem que a ordem social é difícil de se obter e fácil de se destruir, que ela se sustenta pela disciplina e pelo sacrifício e que a complacência com a criminalidade e o vício não é um ato de bondade, mas uma injustiça pela qual todos nós pagaremos.
Os conservadores, portanto, mantêm atitudes severas e - para muitas pessoas - desagradáveis. Eles apóiam castigos vingativos na lei criminal; defendem o casamento tradicional e os sacrifícios que ele requer; acreditam na disciplina escolar e no valor do trabalho árduo e do serviço militar. Crêem na família e pensam que o pai é componente essencial dela. Consideram a assistência pública necessária, mas também uma ameaça em potencial à caridade genuína e um meio de premiar condutas anti-sociais e criar uma cultura da dependência. Valorizam a herança constitucional e legal de seu país, arduamente conquistada, e crêem que os imigrantes também a devem valorizar, se quiserem ter permissão de se estabelecer aqui. Os conservadores não acreditam que a guerra seja causada pelo poderio militar, mas sim, ao contrário, pela fraqueza militar, do tipo que encoraja aventureiros e tiranos. E que uma sociedade corretamente ordenada precisa estar em condições de empreender guerras - mesmo no exterior - se pretende usufruir de uma paz durável em seu próprio território. Em suma, os conservadores são uma turma rústica e pouco amistosa que, no mundo em que vivemos, precisa se blindar para enfrentar os insultos e o desprezo de todos aqueles que fazem da compaixão a pedra angular da vida moral.
Os esquerdistas, claro, são bem diferentes. Vêem criminosos como vítimas da hierarquia social e do poder desigual, como pessoas que deveriam ser curadas com benevolência, em vez de ameaçadas com castigo. Querem que todos compartilhem dos mesmos privilégios, inclusive o do matrimônio. E se este puder ser reformado de modo a ficar livre de seus encargos, tanto melhor. As crianças deveriam ter permissão de brincar e exprimir o seu amor pela vida; a última coisa de que precisam é disciplina. O aprendizado vem - não foi o que Dewey provou? - da auto-expressão; e, quanto à educação sexual, que dá calafrios nos conservadores sociais, ainda não se descobriu melhor maneira de libertar as crianças do jugo da família e ensiná-las a usufruir de seus direitos corporais. Imigrantes são apenas migrantes, vítimas da necessidade econômica, e se são obrigados a vir aqui ilegalmente, isto apenas aumenta o seu direito à nossa compaixão. Auxílios estatais não são recompensas para aqueles que os recebem, mas custos para aqueles que os dão - algo que devemos aos menos afortunados. Quanto à herança constitucional e legal do país, certamente ela é algo a ser respeitado - mas deve "adaptar-se" às novas situações, de modo a estender-se à nova classe de vítimas. Guerras são causadas pelo poderio militar, por "garotos com seus brinquedos", que não conseguem resistir à tentação de exercitar os músculos, assim que os adquirem. O caminho para a paz é livrar-se das armas, reduzir o exército e educar as crianças nas vias do poder suave. No mundo em que vivemos, os esquerdistas são louváveis de um modo auto-evidente - enfatizando em cada gesto e palavra que, diferentemente dos conservadores sociais, eles estão, em todos os assuntos, do lado daqueles que necessitam de proteção e contra as hierarquias que os oprimem.
Esses dois retratos são familiares a todos, e não tenho dúvidas sobre de que lado estará o leitor desta revista. O que todos os conservadores sabem, contudo, é que são eles que são motivados pela compaixão, e que a sua frieza de coração é apenas aparente. São eles que assumiram a causa da sociedade e estão dispostos a pagar o preço de defender os princípios dos quais todos - inclusive os esquerdistas - dependemos. Ser conhecido como um conservador social é perder qualquer esperança de uma carreira acadêmica; é ter negada qualquer chance naqueles prestigiosos prêmios, do MacArthur ao Prêmio Nobel da Paz, que os esquerdistas conferem apenas uns aos outros. Para um intelectual, é descartar a possibilidade de uma resenha favorável - ou de qualquer resenha que seja - no New York Times ou no New York Review of Books. Somente alguém com uma consciência poderia desejar se expor à inevitável difamação que se dedica a tamanho "inimigo do povo". E isto prova que a consciência conservadora é governada não pelo auto-interesse, mas por uma preocupação com o bem público. Por que outro motivo alguém a expressaria?
Contrastando com isto, como os conservadores também sabem, a compaixão exibida pelos esquerdistas é precisamente isto - compaixão exibida, embora não necessariamente sentida. O esquerdista sabe em seu íntimo que o seu "zelo compassivo", como Rousseau o descreveu, é um privilégio pelo qual ele deve agradecer à ordem social que o sustenta. Sabe que a sua emoção para com a classe de vítimas é (ao menos em nossos dias) mais ou menos livre de custos, que os poucos sacrifícios que poderia ter que fazer para provar sua sinceridade não são nada em comparação com o brilho radiante de aprovação em que será envolvido ao declarar suas simpatias. Sua compaixão é um estado de espírito profundamente motivado, não o resultado doloroso de uma consciência que não será silenciada, mas o bilhete gratuito para a aclamação popular.
Por que estou repetindo essas verdades elementares?, perguntará você. A resposta é simples. Os Estados Unidos desceram de sua posição especial como principal guardião da civilização ocidental e ingressaram no clube dos sentimentalistas que até agora dependeram do poder americano. Na administração do presidente Obama, vemos o mesmo sentimentalismo totalitário que tem atuado na Europa e que substituiu a sociedade civil pelo Estado, a família pela agência de adoção, o trabalho pelo bem-estar e o dever patriótico pelos "direitos" universais. A lição da Europa pós-guerra é a de que é fácil ostentar compaixão, mas bem mais difícil arcar com o seu ônus. Bem preferível à vida dura em que o ensino disciplinado, a caridade dispendiosa e a simpatia responsável são os princípios dominantes é a vida da exibição sentimental, na qual os outros são encorajados a admirá-lo por virtudes que não se tem. Esta vida de falsa compaixão é a vida dos custos transferidos. Os esquerdistas que se tornam líricos ante o sofrimento do pobre em geral não despendem o seu tempo e o seu dinheiro para ajudar os menos afortunados. Pelo contrário, fazem campanha para que o Estado assuma o encargo. O resultado inevitável de sua abordagem sentimental do sofrimento é a expansão do Estado e o aumento de seu poder de nos tributar e controlar nossas vidas.
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Os conservadores reconhecem que a ordem social é difícil de se obter e fácil de se destruir, que ela se sustenta pela disciplina e pelo sacrifício e que a complacência com a criminalidade e o vício não é um ato de bondade, mas uma injustiça pela qual todos nós pagaremos.
Os conservadores, portanto, mantêm atitudes severas e - para muitas pessoas - desagradáveis. Eles apóiam castigos vingativos na lei criminal; defendem o casamento tradicional e os sacrifícios que ele requer; acreditam na disciplina escolar e no valor do trabalho árduo e do serviço militar. Crêem na família e pensam que o pai é componente essencial dela. Consideram a assistência pública necessária, mas também uma ameaça em potencial à caridade genuína e um meio de premiar condutas anti-sociais e criar uma cultura da dependência. Valorizam a herança constitucional e legal de seu país, arduamente conquistada, e crêem que os imigrantes também a devem valorizar, se quiserem ter permissão de se estabelecer aqui. Os conservadores não acreditam que a guerra seja causada pelo poderio militar, mas sim, ao contrário, pela fraqueza militar, do tipo que encoraja aventureiros e tiranos. E que uma sociedade corretamente ordenada precisa estar em condições de empreender guerras - mesmo no exterior - se pretende usufruir de uma paz durável em seu próprio território. Em suma, os conservadores são uma turma rústica e pouco amistosa que, no mundo em que vivemos, precisa se blindar para enfrentar os insultos e o desprezo de todos aqueles que fazem da compaixão a pedra angular da vida moral.
Os esquerdistas, claro, são bem diferentes. Vêem criminosos como vítimas da hierarquia social e do poder desigual, como pessoas que deveriam ser curadas com benevolência, em vez de ameaçadas com castigo. Querem que todos compartilhem dos mesmos privilégios, inclusive o do matrimônio. E se este puder ser reformado de modo a ficar livre de seus encargos, tanto melhor. As crianças deveriam ter permissão de brincar e exprimir o seu amor pela vida; a última coisa de que precisam é disciplina. O aprendizado vem - não foi o que Dewey provou? - da auto-expressão; e, quanto à educação sexual, que dá calafrios nos conservadores sociais, ainda não se descobriu melhor maneira de libertar as crianças do jugo da família e ensiná-las a usufruir de seus direitos corporais. Imigrantes são apenas migrantes, vítimas da necessidade econômica, e se são obrigados a vir aqui ilegalmente, isto apenas aumenta o seu direito à nossa compaixão. Auxílios estatais não são recompensas para aqueles que os recebem, mas custos para aqueles que os dão - algo que devemos aos menos afortunados. Quanto à herança constitucional e legal do país, certamente ela é algo a ser respeitado - mas deve "adaptar-se" às novas situações, de modo a estender-se à nova classe de vítimas. Guerras são causadas pelo poderio militar, por "garotos com seus brinquedos", que não conseguem resistir à tentação de exercitar os músculos, assim que os adquirem. O caminho para a paz é livrar-se das armas, reduzir o exército e educar as crianças nas vias do poder suave. No mundo em que vivemos, os esquerdistas são louváveis de um modo auto-evidente - enfatizando em cada gesto e palavra que, diferentemente dos conservadores sociais, eles estão, em todos os assuntos, do lado daqueles que necessitam de proteção e contra as hierarquias que os oprimem.
Esses dois retratos são familiares a todos, e não tenho dúvidas sobre de que lado estará o leitor desta revista. O que todos os conservadores sabem, contudo, é que são eles que são motivados pela compaixão, e que a sua frieza de coração é apenas aparente. São eles que assumiram a causa da sociedade e estão dispostos a pagar o preço de defender os princípios dos quais todos - inclusive os esquerdistas - dependemos. Ser conhecido como um conservador social é perder qualquer esperança de uma carreira acadêmica; é ter negada qualquer chance naqueles prestigiosos prêmios, do MacArthur ao Prêmio Nobel da Paz, que os esquerdistas conferem apenas uns aos outros. Para um intelectual, é descartar a possibilidade de uma resenha favorável - ou de qualquer resenha que seja - no New York Times ou no New York Review of Books. Somente alguém com uma consciência poderia desejar se expor à inevitável difamação que se dedica a tamanho "inimigo do povo". E isto prova que a consciência conservadora é governada não pelo auto-interesse, mas por uma preocupação com o bem público. Por que outro motivo alguém a expressaria?
Contrastando com isto, como os conservadores também sabem, a compaixão exibida pelos esquerdistas é precisamente isto - compaixão exibida, embora não necessariamente sentida. O esquerdista sabe em seu íntimo que o seu "zelo compassivo", como Rousseau o descreveu, é um privilégio pelo qual ele deve agradecer à ordem social que o sustenta. Sabe que a sua emoção para com a classe de vítimas é (ao menos em nossos dias) mais ou menos livre de custos, que os poucos sacrifícios que poderia ter que fazer para provar sua sinceridade não são nada em comparação com o brilho radiante de aprovação em que será envolvido ao declarar suas simpatias. Sua compaixão é um estado de espírito profundamente motivado, não o resultado doloroso de uma consciência que não será silenciada, mas o bilhete gratuito para a aclamação popular.
Por que estou repetindo essas verdades elementares?, perguntará você. A resposta é simples. Os Estados Unidos desceram de sua posição especial como principal guardião da civilização ocidental e ingressaram no clube dos sentimentalistas que até agora dependeram do poder americano. Na administração do presidente Obama, vemos o mesmo sentimentalismo totalitário que tem atuado na Europa e que substituiu a sociedade civil pelo Estado, a família pela agência de adoção, o trabalho pelo bem-estar e o dever patriótico pelos "direitos" universais. A lição da Europa pós-guerra é a de que é fácil ostentar compaixão, mas bem mais difícil arcar com o seu ônus. Bem preferível à vida dura em que o ensino disciplinado, a caridade dispendiosa e a simpatia responsável são os princípios dominantes é a vida da exibição sentimental, na qual os outros são encorajados a admirá-lo por virtudes que não se tem. Esta vida de falsa compaixão é a vida dos custos transferidos. Os esquerdistas que se tornam líricos ante o sofrimento do pobre em geral não despendem o seu tempo e o seu dinheiro para ajudar os menos afortunados. Pelo contrário, fazem campanha para que o Estado assuma o encargo. O resultado inevitável de sua abordagem sentimental do sofrimento é a expansão do Estado e o aumento de seu poder de nos tributar e controlar nossas vidas.
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