terça-feira, 12 de junho de 2007

MICARETA

Por Fábio Rabello


Protestos públicos estão entrando na moda. A cada dia da semana pode-se assistir a um protesto diferente, numa cidade diferente e por um motivo diferente. O problema maior é que há sempre mais protestos que causas e, como já disse, a manifestação popular virou mania, virou vício. É prazeroso provocar tumulto no meio da Paulista, às três da tarde. É prazeroso abandoar o trabalho pela metade e ir tomar sol e chupar sorvete no centro da cidade. E com um pouquinho de sorte, pode-se aparecer na tv, à noite, segurando aquele toco de madeira com o qual se arrebentou a vidraça do Banco. Mais tarde, depois de gravar o noticiário no videocassete, descobre-se que a manifestação nada tinha a ver com Bancos. O importante, no entanto, é estar na moda. E disso brasileiro entende.


Quando George W. Bush, presidente do Estados Unidos, veio a São Paulo, uma multidão tomou conta das ruas da capital em protesto à visita. “Fora, Bush!”, gritava o povo. “Fora, George W. Bush!”, escreviam os mais estudados numa folha de cartolina velha e suja. Enquanto isso, uma equipe de reportagem de uma das maiores emissoras de rádio do país se encarregou de perguntar aos manifestantes o motivo pelo qual eles faziam tal protesto. “Por causa do Bush”, respondiam. “Quem é Bush”, insistia o repórter. “O homi que qué pegá o Bin Laden”, era a resposta mais ouvida. Ou então “A gente qué que ele vai embora!”. Como se vê, a maioria dos manifestantes não sabia o que e nem por que estava lá. Aquelas pessoas todas eram levadas pelo sentimento irracional do coletivo. É triste, mas a maioria das manifestações populares no Brasil tem um fundamento tão nítido quanto a comemoração do Carnaval. Todo mundo participa, comemora, mas ninguém sabe ao certo o quê. A única diferença entre as duas festas é que, nas manifestações públicas, nem sempre é obrigatório se despir.


Há pouco mais de dez dias, a Rádio Caracas Televisão era a maior emissora da Venezuela. A RCTV, como se tornou conhecida, foi tirada do ar por Hugo Chávez, presidente daquele país, sob a acusação de denegrir a imagem do governo venezuelano. A partir dessa premissa, Chávez fechou a maior instituição democrática de seu país e, por esse motivo, deu margem à realização de protestos públicos violentos. Os venezuelanos mobilizaram a nação com propósito e causa definidos: resgatar o caráter democrático do país. Um terço da população, no entanto, apoiou a atitude de Chávez. Um fato simples de ser explicado. O governo tem um programa que distribui dinheiro àqueles que se registram ao partido do presidente e, por esse motivo, eles passam a apoiá-lo. Não sei o nome do projeto venezuelano, mas sei que aqui no Brasil ele se chama Bolsa Família. Há, no entanto, que se ressaltar uma diferença entre os dois projetos. O de Lula atinge um número muito maior da população. Seria de esperar, então, que os venezuelanos protestassem mais, e os brasileiros, persuadidos pela esmola, menos. Mas não é o que acontece, pois, como já foi dito, tem-se que levar em consideração o caráter carnavalesco do brasileiro. Por isso mesmo, há uma lei em projeto na cidade de São Paulo que, se aprovada, obrigará toda manifestação popular acontecer às margens do rio Tietê, no sambódromo da capital.


Lula poderia imitar o governo de Chávez mais uma vez e fechar também nossa maior emissora de televisão. Eu o apoiaria. Eu concordaria com Lula. Quem sabe vetar aquela novelinha de final de tarde com sua meia dúzia de bonitões seminus não nos faria levantar do sofá para organizar mais um efusivo protesto?


Mesmo tendo certeza de que a manifestação teria como causa primeira a derrubada do governo pela simples volta da baixaria às telas, ainda assim, estaríamos em vantagem.

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